27.5.06

Ainda não sei o que dizer...

Era suspiro doce que fazia o tempo passar como deve ser. Sorrisos felizes escondidos debaixo da mesa em dias sem fim. Uma infância quase inventada, desenhada com giz de cera espalhado pelo quintal. Pequenos estranhos, logo, grandes amigos correndo nas aventuras imaginárias de crianças mágicas que sabiam viver sua ingenuidade até o sol se por.
Ontem pensei nos suspiros da Dona Isma, na mesa da minha vó, naquela menina que nem sei o nome e bateu forte e dolorida a saudade daqueles momentos que não voltam mais. Cria-se um mundo que nos cerca e que nos segura embalado em seus braços enormes. E protegido segui até o suspiro não ser mais doce, até pedir sobrenome para receber meus cumprimentos, depois que minha avó partiu para outros lados.
E o mundo para um desprotegido é assim, uma imensidão de coisas novas que ora nos assustam ora nos possuem. Um vagar pela verdade, entre a realidade e a dor de toda essa vida. Um sentimento de ser dono de si e não ser dono de nada. Um abandono estranho, pois ser deixado por seus brinquedos não pode ser tratado como abandono.
Meu problema foi crescer rápido demais. Mas não chore por isso não, não lamento esse impulso que nos tira aquele ar típico de pessoas de baixa estatura que se melecam com doces, se lambuzam na terra e choram por aquilo que deve ser seu mas que algo os impede de ter.
Crescido, bicho desprotegido, busca essa parte perdida antes completa por suspiros e giz de cera em amores. Amores imitados, vomitados, dilacerados, mágicos, únicos e repetidos. Busquei nos outros o que estava vivo em mim. Passei minha vida sofrendo por outros, é a primeira vez que sofro por mim.
É o melhor, sofrer por mim. Assim num tempo próximo, sem brinquedos, amáveis estranhos e mesa da vó, eu posso amar a mim mesmo.

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