23.3.06

Notícias Velhas... do ano passado.

Eu estive procurando motivos que explicassem o meu desânimo. Andei procurando respostas para o meu cansaço. Buscando culpados para as minhas decepções. O mais engraçado e interessante é quando a gente descobre que não há quem culpar. Quando na verdade não existem nem mesmo desânimo, cansaço e decepções.
É desse modo que descobri que estava mudando. Não era o mundo a minha volta e sim eu, e tão somente eu, que estava mudando. Sem perceber fui atirando flechas por ai. Fui seguindo o caminho daqueles que nunca se dão conta de si próprios. E antes de cair em tal desgraça eu voltei e segui a estrada que acho a correta.
Me encontro exatamente ai, e é de onde lhe darei as noticias que você pediu. Encontrá-lo é sempre algo inesperado, e sempre será, sabes tão bem quanto eu como tudo isso começou. E portanto acho que lhe dizendo como anda a minha vida é como se eu fizesse um balanço pra mim mesmo do que foi esses últimos anos.
Na verdade as coisas mudam muito lentamente. Quando a gente vê tá mudado e pronto. Algumas coisas, algumas pessoas fatalmente vão ficando pelo percurso. Já não me dói tanto essas perdas. E não que não façam falta, mas hoje sei conviver perfeitamente com as perdas e com tudo aquilo que me faz falta. Creio que é a força de seguir é maior que a de ficar lamentando para traz.
Digo isso pois essa era uma das coisas das quais eu mais me queixava a você. O medo de ser ponte, de ser descartado, de ser deixado e esquecido. Não há alguém tão importante, tão único, tão especial que não possa ser esquecido, então por que eu o seria?
E nessas conformidades mescladas com mudanças esparançosas, a gente vai vendo as coisas caminharem para o devido lugar. Sinto saudades como antes. Choro como antes. Amo como sempre, mas tudo agora com sua devida intensidade. Sem exageros. Sem “nãos” e nem “porquês”. Sem tristes fins, sem histórias lendárias, sem coisas pesadas pra carregar.
Continuo escrevendo. Roteiros. Pego uma pessoa aqui e a coloco perto da outra. Como dois brinquedos. As afasto, as vejo chorar, as trago de volta e vivo tudo ali, no jogo da imaginação. Na proteção singela das letras. Não quero mais viver tudo no cara-a-cara. Há momentos que posso viver sem correr riscos maiores. Há coisas tão condenáveis em outros tempos que posso fazer agora sem maiores ressentimentos. No branco eu crio o meu mundo, a minha fuga e tudo o que eu quiser.
Então não sou tão diferente assim. Subjetivo? Ainda existam exageros nisso. Sim, mas como é bela a subjetividade quando o que ela apenas quer é proteger? Não penso em forma melhor de me expressar e de conviver do que essa.
Ainda sim o contato é muito importante, e nisso já tenho as minhas outras saídas. Não que seja uma saída, é mais uma entrada, mas penso muito em fazer psicologia e me arriscar em terrenos mais impessoais. Penso que seria tarefa executado com êxito. Gosto de fazer coisas bem feitas, bem sabe, e eis que talvez tenha encontrado a solução máxima para a existência.
De resto me decepcionando, nem tanto, com pessoas, lugares, governos e molecagens. Eis que isso são fatos isolados dos quais consigo rir e tirar proveitos melhores. É a sina de quem prefere sorrir a deixar-se queixar por tudo aquilo que não aconteceu.
E no depósito “lembrança”, você tem o seu lugar. No lado B5 (onde ficam lembranças boas, não-muito-resolvidas, hehehe) e com todo o cuidado te preservo lá. Desde um papel pequeno, amassado, com um nome e telefone. Até a figura que vai se perdendo no rosto, nos jeitos e de tudo mais. É, a gente envelhece e o esquecimento vai corroendo a forma, mas não destrói a essência.

Aos velhos tempos,
Ao cinema,
À Marisa Monte,
E à Empresa Metropolitana de Trens Urbanos.

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