23.3.06

O dia em que os dias bons voltaram

Houve uma vez em que fui feliz. Eram dias de sorrisos fáceis, alegrias bem alegres, felicidade misturada com chiclete de maracujá, filme com pipoca, poemas na madrugada, risada boba e guerra de travesseiro.
A gente acha então que nunca mais vai ser feliz. Que foi tão bom e perfeito, tão único e mágico, que jamais algo parecido irá surgir na nossa vida. Eu estive, por um tempo, guardado aguardado dentro de velhos guardanapos. Estive preso em momentos do passado, em lembranças boas, em medos frágeis e em sonhos impossíveis.
Estive acreditando e desacreditando. Dizendo não quando na verdade queria dizer sim. Uma vez lá em cima, outra vez lá embaixo. Tudo muito contabilizado, pesado, registrado, calculado. Vida sem graça que se ia perdida e achava em roteiros mal escritos, e-mail jamais enviados e telefonemas para sempre esperados.
Restava gostos, perfumes, músicas e pedaços de alguém em mim. E ainda sobrava espaços enormes e vazios, escuros e frios. Nem mais chorava. Não mais lamentava. Comum sentir saudade, comum sentir falta. Comum achar que não pode, que não vai haver. Comum achar que não é correspondido e conhecido.
E assim, na janela e na busca da luz amarela, o garoto dos três pontos, das borboletas azuis, dos ovos, do coração e o congelador, aprendeu que subestimar os acasos é subestimar a si mesmo.
Acontece que as coisas acontecem, e mais uma vez o coração dispara, a perna treme. A emoção, as afinidades, as palavras e o desejo, cada um a seu tempo. A felicidade está de volta. Os dias bons voltaram.

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