3.6.06

Placas de carros me fazem feliz!

Deveria abolir o carro. Adianta evitar os elevadores e as escadas preguiçosas se depois eu me enfio dentro do carro? É mais prático, mas porque sempre fazer o que é mais prático? O prático é um senhor chato, calculista, frigido e perfeccionista! Não! Esse é meu tio Oswaldo. Se bem que ele é bem prático. Carros poluem, entopem nossas goelas, sujam os pulmões, nos estressam, quebram, provocam acidentes, são caros pra manter, seguro pra pagar, gasolina pra andar, em fim, carro não é nada prático.
Procuro me divertir no trânsito. As crianças do carro da frente sempre me deixam sem graça, sobretudo quando abusam dos gestos obscenos. Mas geralmente são caretas, sinais de positivo, risos descontrolados, ai não tem jeito. Baixa o tio palhaço em mim e estou lá, em plena Marginal, animando a garotada do carro da frente. Talvez eu devesse pensar nisso, recreação infantil! Gosto de crianças e elas podem gostar de mim. Será?
Poderia estar sofrendo agora. Chorando ao volante, sendo um bom exemplo de como é triste ser adulto. Que ser adulto é conviver com noticias ruins, ver o lado bom delas, sorrir quando tudo diz não. Ser adulto é viver se acostumando. Acostumar com a infância que passou, com os problemas, os vírus, o trânsito, a poluição, os idosos varrendo as ruas, tenho que me acostumar com tudo isso e ainda sorrir. Então penso que ser adulto é viver em constante estado de consciência. Saber tudo e saber tudo faz tanto mal, tanto mal como a fumaça desse caminhão velho. Por um momento eu ainda queria ser as crianças do carro da frente. Não saber nada mesmo procurando todas as respostas. O meu problema seria o álbum de figurinha incompleto, o Fabinho que parou de falar comigo, o fígado que mamãe quer que eu coma, a lição de casa que não fiz ou o aparelho dos dentes que escondi pra não usar.
Mas sou adulto e devo lamentar menos. Afinal, meia hora preso num elevador, duas horas preso num trânsito é tempo suficiente pra pensar nisso tudo e pensar que ainda posso ser um pouco criança, me acostumar menos, saber menos e me divertir mais.Eu gosto de formar palavras com as letras das placas. Vamos ver. HRZ2672. Os números esquece, já viu número servir pra alguma coisa? Dinheiro que falta, minutos que a pessoa atrasa, mortos nas estradas, tudo é número! Mas letras é comigo! Pego HRZ e formo a palavra HoRiZonte! Com GRS eu formo GiRaSsol! ETR e formo EsTRela, ABT AbacaTe, CRT CaRTA, VIT VITória ou VITrola ou VIsTo. Assim vou brincando como criança. Formando palavras, pensando nelas, passando tempo que por vezes custa passar. Coisas bobas, prazeres fartos. Viver requer exatamente isso, um pouco de tudo e um pouco de nada. Coisas transbordando em aparentes coisas vazias. Viver são pequenos detalhes e grandes reflexões. Quanto será que vale esse meu carro?

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