31.10.06

Entre por essa porta...

O infinito daquele azul não me diz mais nada. Vontades sufocadas, escadas que não consigo alcançar, a inquietude que não termina. Elogiaram a minha intuição e mesmo sabendo de toda sua funcionalidade, algo engasgou no peito. Alguém soque as minhas costas, arrebente meus músculos tensos, faça sair de mim essa coisa que não é de mim. Faça sumir esse desespero plástico, essa lágrima que tende a conhecer a pele fria e triste. O riso sai desistindo, arrependido de não ter sido o riso que se esperava. Mergulhado em caricaturas, em sonhos que não os seus, em palavras recortadas e picotadas, imagino a projeção de dias que virão. E entre o que não devo pensar e o que quero que aconteça, me perco nessa luta de lutar todo dia contra os fantasmas, os medos, os velhos medos, os mesmo medos. E no silêncio, estranho silêncio que quero rompido, nas surpresas que deveriam surgir, eu agora mais espero do que vivo. Esperar não é viver, mas por vezes é preciso esperar para viver o que sonhei.

29.10.06

Corda bamba da auto-sabotagem

Quando, num futuro próximo, eu receber a mensagem que eu mesmo me enviei, saberei dizer mais sobre mim e minhas verdades. Eu tinha a complexidade otária de complicar as coisas. Confesso que ainda tenho um resquício desse triste desprazer e preciso de ajuda para me deter. Desisti muitas vezes. Desejava ser comum por mais que comum não houvesse em minhas formas. Eu sempre quis ser o outro que não era eu. E assim, de dor em dor, de partida e desistências, eu tentava, ainda que de teimoso, fazer-me diferente. Chegar a quem se é não provoca bolhas nos pés ou calo nas mãos. Ser a quem se é, experimentar a pura sensação de liberdade pertence a todos. Acontece que alguém um dia inventou de se distanciar dela e todos os outros, seguidores burocráticos, insistiram de fazer igual. E nesse efeito dominó, coisa de séculos ou dias, eu me vi querendo repetir as repetições repetidas dos artistas. Me vi querendo o que não queria, como postar-se diante de imensa mesa e vomitar nas porcelanas antes de servido o banquete. Se fartar de vomitar coisas, abandonar pessoas, desistir de planos, abortar projetos e sufocar sonhos. Isso é o que é viver para muitos. A dor esconde-se na falta de dúvidas, de tédios, de amigos cretinos. Eu quase me afundei na imensidão dos perdidos, e hoje me encontro entre duas forças que me empurram em sentidos opostos. Tenho um novo sentido e novas cortinas se abrem. Ele baila meio descompassado, sorri tendencioso, insinua saber onde esses passos nos levarão. E eu, inundado de pequenos medos e grandes esperanças, tento enxergar como meu querido estranho. E em seus passos, ainda que desastrado, tento me encontrar. No seu ritmo, no seu jeito doce de me chamar de anjo. Eu preciso de um pouco de calma, de muito entendimento, de uma mão estendida e um copo de suco. Eu preciso tirar a coragem que tá escondida lá dentro daquela caixinha e abrir a vento. Permitir que ele me carregue, que mostre o caminho que sempre sonhei seguir. Está muito próximo, posso tocar. E tenho medo, pois quando isso aconteceu, certa vez esquecida, o toque não foi o suficiente. Ver fugir de ti os sonhos que te ensinaram a pisotear? Não é a sensação que quero sentir. Talvez seja por isso que nobres anjos assoprem com veemência que devo seguir mais uma vez o meu coração. De mostrar, para o sujeito que abrirá sua própria mensagem no futuro vindouro que ele estava certo. Que foi a opção acertada, pois encontrar um amor como esse não é para qualquer. Para você, que sabe de todo o meu sentir, só me embale com seu jeito jeitoso, me mostre a nossa calma e nos levará aos dias calmos sempre esperados.

28.10.06

Retrospectiva ou O Melhor e O Pior de mim

"As pessoas estão ocupadas demais para nos surpreender, ou envolvidas em seus problemas inventados".
"A gente acha então que nunca mais vai ser feliz. Que foi tão bom e perfeito, tão único e mágico, que jamais algo parecido irá surgir na nossa vida. Eu estive, por um tempo, guardado aguardado dentro de velhos guardanapos. Estive preso em momentos do passado, em lembranças boas, em medos frágeis e em sonhos impossíveis. Estive acreditando e desacreditando. Dizendo não quando na verdade queria dizer sim. Uma vez lá em cima, outra vez lá embaixo. Tudo muito contabilizado, pesado, registrado, calculado. Vida sem graça que se ia perdida e achava em roteiros mal escritos, e-mails jamais enviados e telefonemas para sempre esperados".
"Há uma graça nisso tudo. Há algum encanto desencantado enterrado em alguns desses parágrafos, cenas, linhas, cabeçalhos. Há saudades e reticências. Há três pontos, vontades inusitadas, acentos mal acentados, pontos finais em lugares equivocados, vírgulas com nome de anjo, anjos querendo ser vírgula, palavras por palavras, e finalmente, apenas palavras".
"Não quero mais viver tudo no cara-a-cara. Há momentos que posso viver sem correr riscos maiores. Há coisas tão condenáveis em outros tempos que posso fazer agora sem maiores ressentimentos. No branco eu crio o meu mundo, a minha fuga e tudo o que eu quiser".
"No momento em que se foi, fiquei meio oco por dentro. A imensidão da beleza de um sentimento que se perdeu. Que deixa a marca marcada viva e morta dentro de algo que já não existe mais".
"Estranho ser você e não te querer. Estranho rejeitar o que mais se quer. Calar num peito trancafiado. Há uma beleza nisso. No rosto sincero dessa perfeição. Sim, é você que amo, mas é você que finjo não querer".
"Se todos os nossos sonhos fossem como sonhos de padaria, que sonhos compraria?".
"Lá fora, o calor, dentro do carro, aquela tristeza “nossa” carregada à força. Aquele “lutar” já vencido. Uma sensação azeda de perda, de vazio, de regresso, de voltas e mais voltas".
"O olhar que eu não conhecia. Dentro de mim já existia. Era meu amigo invisível".
"Mesmo na curva do amor. Mesmo sendo a ponta quebrada de um triângulo. Algo sei que vou guardar".
"A espera é dolorida. A dosagem, nem sempre é precisa. Mas a ausência, essa é necessária. Só assim saberás se me tens... Só assim saberei se o tenho. E ao fim, saber que ninguém sabe nada...".
"Não caíra no esquecimento. Não se apaga o beijo bem dado e o seu olhar calmo. Há retalhos arrancados de mim. Pedaços de vultos e de saudades com nomes e metades que levam o melhor de mim".
"E perdido em mundo novo, e sentido em sentimentos soltos, ele inventou de aceitar seus desejos. Ele criou um mundo seu, uma tecnologia barata, bordada a mão, feita sem esforço, palpitações únicas, necessidade pulsante do seu redescoberto".
"Hei de me perder, de me lembrar e de te esquecer e de desejar o inverso, todo o resto, e sufocar até morrer mais um pouco".
"Tente recusar só aquele imundo lado, mas não recuse a mim. Sou mais que isso. Posso ser mais".
"Um silêncio adorável e um abraço gentil. Um carinho perdido e logo um brilho encontrado. Uma eternidade em segundos. Um ter meio não tendo naquela noite de verão".
"Havia um lugar onde fitinhas multicoloridas enfeitavam os cabelos. Havia um lugar onde a tristeza era um combustível, onde se enganar era a melhor forma de ser feliz. Havia um lugar e nele tudo podia acontecer. Inclusive o nada. Nesse se perder e se achar e se perder de novo, ele perdeu a conta das perdas. Ele perdeu a conta das pedras. Ele perdeu a conta de quantos pedaços seus levaram embora".
"Suspirei por perdas irreparáveis. E sobre as minhas escolhas vi refletido a imagem de alguém eternizado por suas escolhas".
"E quando não há mais nuvens e nem estrelas e nem pipas e nem pássaros, as razões se perdem. Quando não se consegue lidar com as pessoas, quando as pessoas não sabem se desvirar, é hora de partir em busca de si mesmo".
"Sonhei com dias melhores. Sonhei com pessoas queridas, com situações imaginárias. Eu me inventava ao seu lado. E inventava outros. Criava situações como num filme. E eu era feliz. Feliz sonhando que gostavam de mim como eu era, e que não pediam nada em troca pra isso. Uma brincadeira solitária".
"Queria um coturno, um sobretudo, uma música triste borrada pra mim e um sonho bom. Queria viver de planos, projetos, rascunhos de projetos e projetos de rascunhos de projetos. Viver de mentiras, ainda que verdadeiras demais. Fugir das verdadeiras, principalmente das falsas demais. Pular amarelinha aos sábados. Perder guarda-chuva na segunda e pegar na sua mãe na quinta".
"Deveria existir um vácuo, um buraco negro entre uma relação e outra. O mundo deveria ser devastado por uma bomba atômica louca assim que descobrimos que não somos mais os culpados por calafrios, batedeira no peito, tremedeira nas pernas ou ereção fora de hora. E só voltar a ser mundo quando, após uma noite quente e íntima de sexo surpreendente, ouvir um sincero “eu te amo”.
"Ninguém se separa. As pessoas se abandonam. Essa é a verdade, a verdade verdadeira. O amor pode ser recíproco, mas o fim dele não, nunca".
"E o mundo para um desprotegido é assim, uma imensidão de coisas novas que ora nos assustam ora nos possuem. Um vagar pela verdade, entre a realidade e a dor de toda essa vida. Um sentimento de ser dono de si e não ser dono de nada".
"Busquei nos outros o que estava vivo em mim. Passei minha vida sofrendo por outros, é a primeira vez que sofro por mim".
"Eu sei que é tudo confuso. Não sei o que será daqui para frente. Ainda não sai lá fora, não vi as pessoas. Algo dentro de mim diz que nada vai mudar. Mas que estranhamente vai mudar pra melhor".
"Agora é que quero viver. Nesse tempo certo-incerto que foste desde sempre e que agora surge pra mim como um desafio bom de querer pessoas boas e bons momentos".
"Pensei em tanta coisa e ao fim não pensei em quase nada. Os dias são assim, intervalos de tudo e de nada. Uma brincadeira de inventar o futuro, sonhar acordado, imaginar lugares, pessoas e situações. Um projeto audacioso de querer, de querer mais aquilo que se desconhece, como muitas das coisas que penso e que não penso a fundo".
"Poderia estar sofrendo agora. Chorando ao volante, sendo um bom exemplo de como é triste ser adulto. Que ser adulto é conviver com noticias ruins, ver o lado bom delas, sorrir quando tudo diz não. Ser adulto é viver se acostumando. Acostumar com a infância que passou, com os problemas, os vírus, o trânsito, a poluição, os idosos varrendo as ruas, tenho que me acostumar com tudo isso e ainda sorrir".
"O que sinto é sempre mais forte. O momento pede para ser revelado no meu ritmo. Eu já sei que o mundo é bem mais que o que vejo pela janela. O som pode ser mais que silêncio".
"Hoje sou um substituto de mim mesmo. Um amor substituindo as dúvidas de uma vida".
"E nesse novo outono, novos dias de uma vida quase nova, os temores são grandes e o poder do adeus é coisa que persiste. Uma despedida a cada esquina. Uma última vez tímida e secreta, pra não maldizerem do que sinto e assim vou vendo e vivendo esses dias nublados. O frio se estende e percorre as noites quentes, de pele molhada e mal estar intenso. Parece que vai explodir, voar pedaços coloridos por ai, lenços e mais lenços por um olhar apagado".
"Reunião de amores. Sorrisos limpos e abraços sinceros. Tudo assim, bem simples e verdadeiro. Sem poesia, meio seco, no que é. Não são relações imaginárias, sentimentos idealizados. Não são personagens de roteiros mal escritos. São amigos. São pedaços de mim".
"Não creio mais nas suas palavras e ainda assim, moras dentro de mim".
"Vou em busca de mim, desse algo que brilha além dos muros".
"Como disse, há exageros. Sou assim, um exagero em duas pernas, poucos cabelos, sorriso largo e olhar curioso. Sou um pouco tudo e muito de nada. As vezes fica a impressão de que sou o oposto do que mostro, mas atente e me leia uma, duas ou até três vezes com mais calma. Inverto muito e isso confunde".
"O recente mal deveria ter me condenado, mas na loucura toda dessa minha vida, essa coisa microalgumacoisa trouxe de volta ou trouxe de vez essa vontade de ser e de viver mais que nas palavras e nos desejos".
"As más noticias foram em fim despejadas nos passados amores. Difíceis palavras, estranho momento de revelar o que doces dias nos trouxeram. Um a um e eu vou ficando só".
"Gosto de coisas consertáveis. Mas nem tudo pode ser consertado".
"Eu poderia fazer coisas mágicas e terríveis com alguém do meu lado. Posso insistir que o homem não foi na Lua, ver todo mundo irritado e me achando um boboca, não importa, comam torta".
"Não há mais o que temer. Escreva lindas palavras. Já não há sentimentos para poder recriminá-lo e assim, nem para amá-lo".
"Quando se perde a bela cena que nos envolve, que nos instiga, que nos ameaça, se esquece o futuro e os caminhos que nos levam até lá".
"Cadê a poesia? Socada numa bunda qualquer que senta apoiando os risos falsos, as felicidades amarelas, coisas limitadas e tristes vidas longas mal vividas".
"E ainda tenho que conviver com a piedade, porque é o que fazem, lêem um troço desse que estou escrevendo e ainda sentem dó de mim. Se for meu amigo me liga e não diz nada, ou melhor diz o seguinte: “Vai tomar no cu! E se arruma que a gente vai no cinema!”.
"Se tenho que conviver com os meus medos que é morrer, sentir dor e ficar sozinho, então vou selecionar mesmo, o que de pior poderia me acontecer?".
"A claridade não perturba, vai me convencendo, me ganhando, me tendo de novo no meio de suas coxas macias e suadas. Escorrego pro lado de lá e já posso dormir mais tranqüilo. Tão perto e próximo ao principio abismo. Só vou voltar pra matar a saudade, pra lembrar como era bom. Me puxa pra dentro, bem devagarzinho, sem choros e esperneio. Fico de conchinha, cochilando bem mansinho com todos os diminutivos bonitinhos que juntei pela vida".
"Mas hoje, porque duvidar da fé das pessoas? Eu acredito que um dia vou conhecer alguém que goste de mim como sou e que vou retribuir tal pessoa com o mesmo sentimento, isso não é fé?".
"Igualmente recuso a dó, a piedade, a solidariedade barata e o assistencialismo patético. Recuso os amigos falsos, as lágrimas pedantes, as desculpas inventadas e o perdão fingido. Recuso o interesse cruel por minha dor. Recuso o olhar curioso, o toque receoso, o excesso de zelo, o papo contido a distancia calculada".
"Tenho um olhar muito simples para as coisas. E temo, com isso, simplificar o mundo".
"O nosso tempo a gente inventa, e você inventou que ele acabou".
"Hoje foi um dia bom. Dia-pós-dia-maravilhoso. Acordei com seu cheiro. Com gostinho de quero mais. Levantei meio anestesiado. Passei o dia tentando entender tudo o que aconteceu ontem. O mundo na segunda e eu ainda perdido no domingo".
"Tenha consciência que sempre vai haver alguém na contra mão do amor. Alguém sempre vai se perder na próxima curva, mas que ao fim, tudo ficará bem".
"A foto do amável desconhecido colore sonhos permitidos e traz novidades degelando as calotas de sentimentos empilhados no canto escuro do último quarto no último andar do último prédio oposto àquele onde fica o adorável apartamento azul".
"O desconhecido toma a forma que quero, caminha pelas calçadas de meus dias, me faz sorrir e me querer bem e melhor".
"Eu te entendo. Acho que entendo. Compartilho da mesma cafonice bamba, de suspiros quase adolescentes, de crenças quase impossíveis. Desse gostoso vicio de te sonhar acordado em todos os lugares, em todos os momentos e assim te ter ao meu lado por dias, por todos os dias, nas idas sem vindas. Nas idas e apenas idas".
"É a alegria que não posso tocar, que está longe e que me fascina por isso. Por me tocar, por me encantar, quando tudo aqui perdeu a graça, onde os braços ficaram curtos e os corações apertados para me acomodar. E nesses dias onde só se crê no que se pode ver eu vejo você, nos sonhos que quero ouvir e na mão que posso tocar".
"Não posso me deixar vencer pela racionalidade chata alheia daqueles que já não acreditam no doce da melancia. Há uma doçura, ainda que se ache amarga, lá do outro lado, abaixo dos braços abertos. Está lá, do lado de lá da tela, do lado de lá de tudo e não se tem distância pra isso. Está longe e ponto. Pode ser cerca, parede, muro alto, ponte, está sempre do lado de lá e eu do lado de cá".
"Se já não me entendem já não posso estar entre eles".
"Uma perseguição constante pelo seu nome, pela sua figura, sua risada, suas histórias, tudo aquilo que não sei e que nem sei se vou saber".
"Acho que vou ver o mar, sentir a areia, ficar horas deixando o mar me levar pra depois me vomitar de volta. Vou lá me despedir de algo que não terei mais".
"Os mesmos delírios desconexos. As imagens do nada querendo dizer tudo o que se esconde lá dentro. Sou um pedestre invisível, e mesmo assim ando sempre pela calçada. Pegue em minha mão, estou programado para amar, programado para amar do amor tranqüilo".
"Eu sou assim, insaninho de palavras hábeis, coração na ponta da língua e língua no dedão do pé! Eu sou isso, percebe a dimensão da loucura?".
"É o mesmo azul, o mesmo desejo, o mesmo desejo de só querer assistir o mundo mas não fazer parte dele".
"Não tirem a beleza dos dias calmos. Eu girava com o mundo e agora ele gira sem mim".
"Sou a exceção no seu mundo de não. Sou o feliz que pode sempre lhe sorrir e dizer sim".
"Cheguei em casa e o seu cheiro está aqui. Nos travesseiros. No lençol. Nas paredes. Há você aqui em todos os cantos. Nas músicas que levou, no roteiro, em mim".
"O tempo que nos resta é muito tempo. E a distância que nos separa, muito curta. São 18 milhões de pessoas e eu estou no meio delas e quem consegue me alcançar é você que está do outro lado da fronteira".
"Não quero um outro olhar, um outro sorriso, outro sotaque que não seja o seu. Não quero outro sonho que não os que poderei dividir com você".
"Viver faltando um pedaço é viver sem pensar no pedaço que falta"."Eu procurei você quando nem sabia que você era alguém. Procurei quando nem sabia que você era você. Procurei sem saber que procurava".
"Porque se brega é se apaixonar todos os dias pela mesma pessoa, então eu sou o brega mais feliz do mundo".
"Eu posso dizer que fui salvo. Eu posso dizer que no momento em que vi a luz e ele estava lá, cansado e sorrindo pra mim, eu tive naquele momento a vida devolvida. E por isso os meus dias serão pra ele".
"Acabaram os dias de espera. Os dias bons passaram, é passado. Os dias de felicidade infinita estão apenas começando".
"É um sentimento calmo, sincero e que cresce na proporção da distancia. Não há nada que nos separe. Quando um acredita, é a possibilidade do amor. Quando dois acreditam, é o próprio amor".
"Eu cheguei para o meu amor e nunca é tarde. Cheguei e agora quero ficar".
"É o momento de ser feliz e de repousar tranqüilo no colo de um amor esperado".
"Perguntei a mim mesmo e a resposta veio macia em ouvidos duros. E entrando com o vento lento, em movimentos leves e intensos, como onda invisível e distinta do ar que lhe cerca. Foi entrando e contornando os medos e os terríveis questionamentos. Foi desendurecendo coisas a muito endurecidas. E ouvindo tua própria voz, palavra bem cantada, nuvem de bom sentimento, ouviu de si a razão de si. “Eu o amo. Eu realmente o amo”.
"Eu tive sonhos e hoje eles deixam de ser sonhos. Coisas tão perfeitas e que de tão perfeitas, assustam. Certas Coisas tão bem colocadas, tão bem feitas pra mim, só pra mim, tudo aquilo que eu só via do outro lado da projeção e que hoje, de forma mágica, se projeta dentro de mim".

26.10.06

Sou um cachorro no cio?

Um dia eu ascendi uma vela e rezei pra lua que não mais me preocuparia com os olhares alheios. Existiu um dia, dias perfumados pelo perfume doce da confidente de cabelo engraçado, que eu prometi que buscaria a tranqüilidade nas essências. Acontece que estão me olhando como um cachorro no cio, e por mais que eu tenha feito promessas, esses olhares me fazem pequenino, fazem voltar os cinco anos. Então ou eu sou um cão no cio ou uma criança de cinco anos com o nariz escorrendo. Eu assistia Bagdad Café e tinha sonhos que hoje acontecem com o meu toque, em rápidas palavras e em fotos mal tiradas. Eu tive sonhos e hoje eles deixam de ser sonhos. Coisas tão perfeitas e que de tão perfeitas, assustam. Certas Coisas tão bem colocadas, tão bem feitas pra mim, só pra mim, tudo aquilo que eu só via do outro lado da projeção e que hoje, de forma mágica, se projeta dentro de mim. E talvez, a facilidade com as letrinhas, não traduza tão fielmente um discurso que pode até parecer reciclado, copiado de outros discursos de outros dias meio vividos. E por mais que eu tente provar que não é uma repetição, eu me tornei um Paco no cio ou um Pipinho no jardim de infância. Meus sonhos são diminuídos à pequenas insanidades, como utensílio de moda ou estação do ano, logo passa. Não culpo os meus observadores, eles não ouvem ou sentem o que eu posso sentir. Eles não ouvem o chiado do mar perto mesmo estando longe. Por mais que eu fale, que escreva coisas como essa, eles jamais saberão o que mora agora dentro de mim. Recorro a todos os meus anjos na busca de saídas e soluções, vejo o esforço dessa massa feliz coletiva tentando me empurrar do galho pra alçar vôo. E é quando me dá o medo, pois a gente aprende desde que nasce a duvidar de tudo aquilo que é perfeito. Eu tenho medos, eu sou normal. Não, eles não me dominam ainda. Sim, eu continuo sendo normal. O fim de ano é assustador, ele nunca me abraça. E temo que o fim do ano seja mais uma passagem triste de sonhos que não deixaram de ser palavras. Mas vai dar tudo certo. Um dia vão poder me olhar diferente, não como um cachorro no cio e sim como um cão feliz abanando o rabinho de felicidade.

22.10.06

Váatéteumoço


Quando penso em alguém só penso em você e ai então estamos bem”. É a frase mais verdadeira que existe nesse momento pra mim. Tudo bem que ainda não passou o efeito da pressurização da cabine. A viagem foi rápida, mas o suficiente pra me conceder respostas dignas. Estou feliz e isso é fato! Discorde e vá brincar com sapos! A loucura está além de vossos olhos, então como me acusar de um crime que desconhece? Estou fazendo a coisa certa caro pirralho de cabelos grisalhos. Ô sim! Grande Mestre dos Abaetés Maduros! Quem diz o que não faz já está querendo deduzir o que vai fazer! Eu já disse que vou e está encerrado. Arpoador que me aconchegue na pedra fria da noite que vira dia. E me prometa que não vai faltar rimas, cantigas e biribinhas. Deixe as velhas discutirem, não se apegue na bateção e escute mais o que te diz o coração. Há um Moço encantado, se sorriso prateado, o sotaque é engraçado, chia como a onda do mar. E ele está lá esperando o Moço. Sentindo a saudade que sabes bem como é. Te procura no teu cheiro e não há nevoeiro que não se note tal amor. Perguntei a mim mesmo e a resposta veio macia em ouvidos duros. E entrando com o vento lento, em movimentos leves e intensos, como onda invisível e distinta do ar que lhe cerca. Foi entrando e contornando os medos e os terríveis questionamentos. Foi desendurecendo coisas a muito endurecidas. E ouvindo tua própria voz, palavra bem cantada, nuvem de bom sentimento, ouviu de si a razão de si. “Eu o amo. Eu realmente o amo”. Saiu repetido seguido de um riso estonteante, olhos fechadinhos e um olhar cambaleante de felicidade. O anjo postado em forma de amigo querido, abre seu peito e te encolhe lá dentro. Sem mimos e exageros, o anjo lhe entende na forma mais absurda de entendimento. O olhar vai dizendo, o coração salpicando e a resposta veio. Não há mais dúvidas. O teu caminho tá pronto Seu Moço. Não volte sem o outro Moço e pequenas abelhinhas. Tem Sol do lá de lá, passe o tal do protetor solar. E seja feliz. Serei eternamente feliz.

21.10.06

Até mais, Ibirapuera

- Você está bem?
- Sim, só preciso sair um pouco.
- Você nunca me liga.
- Eu não ligo pra ninguém.
- Do que você está precisando?
- Que idéia errada que tem de mim.
- É o que me faz pensar. Se não liga pra ninguém e resolve me ligar é porque quer alguma coisa.
- Não é verdade. As pessoas mudam.
- Por isso que gostam tanto de você. Por causa da sua incapacidade de mudar.
- Já leu Caio Fernando Abreu?
- Algumas coisas, por que?
- Tem uma frase dele que diz assim: “mudei muito e não preciso que acreditem na minha mudança para que eu tenha mudado”.
- Ok. Você mudou e estou quase convencido disso, o que quer comigo?
- Quero dar uma volta.
- Comigo?
- Sim, com você.
- Jamais pensei que esse dia chegaria, tanto que te chamei para essa voltinha. Tomou algum pontapé na bunda ou algo parecido?
- Você ficou ácido com o tempo.
- As pessoas mudam.
- Estou indo embora para o Rio.
- Você?
- É. As pessoas não só mudam. Elas se mudam ás vezes.
- Quando?
- Agora. No inicio do ano. Então, quer me ver?
- Quero. Onde?
- Ibirapuera. Na Praça do Porquinho. Te espero.

(...)

- Olá!
- Oi.
- Que frio!
- É, tá muito frio.
- Vai sentir falta?
- Do frio?
- É.
- Não sei dizer. Acho que sim. Sinto falta das coisas.
- Sente falta de mim?
- Sim, e você?
- Sabe que sim.
- Agora eu sei apenas o que as pessoas me dizem. Prefiro não adivinhar o que elas pensam.
- Mas você sabe que eu sempre te amei.
- Acho que nem você sabe disso. O que temos é um carinho grande.
- Fale por você.
- Sinto um carinho enorme por você e por isso o chamei aqui. Poderia ter chamado milhares de outras pessoas antes de partir e escolhi você.
- Por que está indo embora?
- Hoje eu sei porque te deixei.
- Por que está indo embora?
- Eu o encontrei.
- Você é maluco.
- Essa é uma das razões. Você não era maluco o suficiente para mim.
- Qualquer um acharia isso bom.
- Não eu.
- Você nunca desistiu, não é?
- Nunca.
- Como sabe que o encontrou?
- Sabendo.
- Eu não fui “ele” um dia?
- Não.
- Então por que ficou comigo.
- Por um instante pensei que não o encontraria. E você era bom o suficiente pra calar a minha busca.
- Você me chamou aqui pra isso?
- Não. Sim. Não. Não sei.
- Eu ainda tentei ficar com você mesmo depois de tudo.
- Por que? Por que queria ou achava que ninguém mais ficaria comigo?
- Porque eu te queria.
- Eu sei e achei lindo o seu gesto, mas não era você.
- O que está tentando fazer? Me libertar?
- Veja como quiser ver.
- Eu já não te amo como amei um dia.
- Eu sei.
- Então não tinha porque me chamar aqui pra contar das suas maluquices.
- Não é o que você está pensando.
- Ir para o Rio de Janeiro atrás de uma pessoa que você sabia que existia e que só não sabia o nome, o sobrenome, se gostava de geléia é maluquice!
- Tanto eu sabia que ele está lá me esperando agora.
- Qualquer um que aparecesse você diria o mesmo.
- Eu disse pra você?
- Não.
- Sinto muito.
- Tudo bem, desculpe.
- Eu precisava lhe dizer. Não posso partir sem antes deixar claro que te deixei porque ele estava me esperando.
- Antes pouco me importava porque você havia me deixado. Você me deixou e nada mudaria. Mas se diz que me deixou para encontrar o seu desconhecido e isso aconteceu, fico feliz por você.
- Obrigado. Você não mudou nada.
- Você também não.
- No nosso caso é bom não mudar, não acha?
- Acho. Prefiro você assim.
- Hoje eu sou quem eu sempre quis ser.
- Dá pra ver nos seus olhos. E São Paulo?
- Amo São Paulo. Paulista, Consolação, Liberdade, vou sentir falta. Mas o meu coração me manda pra lá.
- Sempre admirei pessoas que seguem o seu coração.
- Eu preciso ir. Não posso ficar aqui e pensar o que teria sido se eu tivesse ido. Não faz sentido agora. A minha felicidade está lá, num sorriso lindo, de sotaque mágico, é o que quero.
- Vou sentir a sua falta.
- Eu também.
- Que tal andar de bicicleta?
- Acho ótimo.
- Ei, você o ama?
- Sim, muito, como nunca amei ninguém.
- Então ele é um carioca de sorte.

19.10.06

Arpoador

O mundo disse não e eu sorri mesmo assim. Viraram as costas e eu fiquei ali esperando a minha vez de entrar. Eu quis muitas coisas em outros tempos. Eu fiz planos numerosos, imensos desejos e detalhei tudo o que não conhecia, tudo o que não sabia, o que não queria. Eu rimei batata com pirata, árvore com espinafre, sapato com apertado, guarda-chuva com coisa nenhuma, amor com amor e somente amor. Disseram não e eu insisti. Uma birra pirracenta de querer mais e de querer tudo. Ainda quero um sobretudo, um coturno e uma música triste borrada pra mim. O sonho bom já é realidade, assim como os planos, os projetos, os rascunhos de projetos e os projetos de rascunhos de projetos. Agora eu conheço o Rio e o meu coração segue dividido entre a Cidade Maravilhosa e a Terra da Garoa. Tenho um amor e só falta o jardim. Tenho o amanhã e tenho o olhar que é só pra mim. É a hora de colocar em prática tudo o que colhi pela vida. É o momento de ser feliz e de repousar tranqüilo no colo de um amor esperado. A vida da gente é assim, ou pelo menos, de todos deveria ser assim. Reencontros, ainda que demorados, dos amores esperados. A risada da minha mãe me fascina e as piadas do meu pai me iluminam. A Eva e o Tobias me dão vida. E meu amor me faz sorrir. Que bom, porque sorrir é e sempre será, cool.

10.10.06

Para a pequena Eva

Eu sou o Clau. Eu poderia ser qualquer outro mas eu sou apenas o Clau. Filho de um padeiro comunista que sonhava ser palhaço e de uma delicada mulher com alma de artista que faz-de-tudo-um-pouco-e-muito-bem. Com esses dois exemplos dentro de casa, desde pequenino aprendi que existem muitas coisas no mundo mas que se vale a pena mesmo é procurar pelo nosso amor. E eu procurei por ele nos meus brinquedos, nas brincadeiras de roda, nos bancos da escola, nas férias de julho e nas de dezembro também. Procurei o amor comendo suspiro doce e ouvindo Biafra escondido dos terríveis adultos. E sem saber que o procurava eu juntei umas coisinhas especiais que carrego comigo até hoje. Para procurar por um amor nada melhor do que amar e o amor me levou até as melhores pessoas. A família querida, os amigos do peito com os quais vivi e vivo momentos inesquecíveis. Pessoinhas engraçadas ou sensíveis ou sinceras ou intensas ou corajosas ou tudo isso junto. Amo elas porque elas são elas e elas me amam porque eu sou o Clau. E hoje eu tenho um amor! Hoje eu tenho a felicidade de ter chego onde sonhava chegar. Estou onde os meus brinquedos me contaram que eu chegaria. Eu cheguei como todos os amigos esperavam que eu chegasse. Eu cheguei para o meu amor e nunca é tarde. Cheguei e agora quero ficar. Eu sou o Clau e posso te falar, assim de maneira boba, que eu gosto de ser o Clau. Eu tenho dois salsichas lindos, eu tenho uma facilidade que muitos chamam de arte, tenho iogurte de morango sobrando na geladeira e pãezinhos de ovos sempre a me deliciar. Eu tenho duas caixinhas de madeira, tenho as melhores histórias em disquinhos prateados. Tenho fotos diversas e diversas fotos de todos os dias, os melhores dias. Eu vou ter minha casa pra voltar, não importa se vai ser em São Paulo ou no Rio ou em outro lugar porque o meu amor vai estar comigo. Minha filha vai se chamar Eva e meu filho Tobias. Meu sonho será sempre poder sonhar e minha felicidade vai ser fazer minha família feliz. Encontrei o meu amor ou ele me encontrou, tanto faz. Hoje estamos juntos e terei novas histórias pra escrever. Eu sou assim, um apaixonado desde sempre e vai ser assim porque eu sou o Clau. É, eu sou apenas o Clau.

6.10.06

Arrumando malas

Encontraram a solução para o fim dos soluços. Solução para soluços! Eu gosto de soluços. Soluços são engraçados, deixam as pessoas constrangidas de um jeito engraçado. Um soluço e um sorriso sem graça, outro soluço e mais um sorriso sem graça e por ai vai soluçando, rindo e fazendo os outros rirem também. Quando eu abandonei os muros seguros era para caminhar rumo ao lugar que me espera. Hoje tem alguém me esperando. Contando horas como eu. Vou voar pra lá, a metade de mim, metade de outro, na busca da outra metade, completando a metade dele. O amor é brega e é assim, se não amor não seria. Seria qualquer outra coisa menos amor. O mundo que ficou já está muito longe e não consigo mais enxergar os altos muros ao olhar para trás. Para trás ficou. Tenho uma nova história para escrever e sobre ela quero contar. A história do meu amor por muito tempo desencontrado e que agora me levará lá nas pedras do Arpoador pra me contar seus segredos. É um sentimento calmo, sincero e que cresce na proporção da distancia. Não há nada que nos separe. Quando um acredita, é a possibilidade do amor. Quando dois acreditam, é o próprio amor. Hoje eu li que é difícil lutar contra a própria natureza. Estava no nick de um amigo que gosto muito e percebi que eu poucas vezes lutei contra mim e que agora, fazendo as malas, estou fazendo exatamente o que sempre fiz: seguir o meu coração, responder a minha natureza, o meu instinto que me levará a felicidade. E se um dia, os que vêem exageros nessas linhas, as usarem para justificar qualquer coisa, eu vou rir e dizer que valeu a pena mesmo assim, pois nada vai tirar o brilho desses dias.Passei por todas as peneiras e funis que alguém poderia passar. Tomei banho em todas as chuvas que uma pessoa pode tomar. Chorei sempre nas horas em que tive que chorar. Eu selecionei e por vezes fui selecionado. E tenho hoje todas as respostas para os que me preteriram de seus sonhos, para todos aqueles que exilei de mim, era pra chegar até ele. Eu estive me preparando para esse momento. Agora basta arrumar as malas e controlar a ansiedade.

4.10.06

É daqui pra frente!

Paciência. Eu também só preciso de um pouco mais de paciência. Encontrei o meu amor e preciso de serenidade pra viver o momento mais esperado de uma vida. Preciso ver o sol nascer e com ele ao meu lado, ver o novo dia de novas possibilidades. É daqui pra frente, quero insistir nisso. Não procuro culpados, não procuro a minha sentença. A vida faz escolhas e as escolhas nos fazem, não posso lamentar por esse amargo gosto de isolamento. Não sei o que pensar e por isso não quero mais pensar. É por isso que tem que ser daqui pra frente. Voltar para os seios fartos dos que procuram me entender, voltar para os que ouvem e que exercitam a sensibilidade. Meu trator foi estacionado lá fora, não pretendo mais usá-lo. O sonho de meses está no lixo, no triste lixo dos dias que não voltam mais e não há culpados. O conflito faz doer aquela parte mais à direita. Eu agacho e sinto a pontada do medo e não posso mais. Preciso de paz para me dedicar a esse novo momento. Preciso de tranqüilidade pra voltar pra casa. É só o que quero. Fechar a porta e poder sorrir. Sorrir porque ao olhar para tudo o que ainda vou viver, ele estará lá, com as mãos voltadas pra mim. Acabaram os dias de espera. Os dias bons passaram, é passado. Os dias de felicidade infinita estão apenas começando. Anote na caderneta, seremos felizes juntos.
"Algumas coisas passam. Outras também. Importante é o que fica"

1.10.06

Aos Amores Amassados

(...)

Um dia disseram a eles que seus amores os aguardavam no Palácio Amarelo. Então, esse grupo de pessoas, com os corações abertos ao amor, caminharam até o lugar que vossos amores lhe esperavam. O Garoto Comprimido era uma dessas pessoas. Apesar de como o chamavam, Comprimido, por diversas vezes ter sido isso e apenas isso na vida de seus desamores, o garoto jamais desistia de encontrar aquele que não o usaria como uma cápsula doce.
Obcecado por esse desejo de paixão, de dias cúmplices, sorrisos singelos, carinho na mão, ele caminhou por lugares escuros, por lugares claros, por lugares que não eram lugar algum. E apesar da chuva de alfinetes, do vento gelado, das estradas longas, dos buracos todos, ele não desistiu e um dia chegou ao Palácio Amarelo com seus obstinados companheiros de viagem.
Ao entrar nos salões do imponente Palácio, o Garoto Comprimido e os demais notaram que ninguém os esperava. O Palácio Amarelo não passava de salas e salões e corredores frios e vazios, onde não se via e não se sentia qualquer tipo de amor correspondido. Pensaram em voltar, fazer a viagem inversa, mas logo perceberam que não havia volta. A promessa do amor de uma vida os trouxe ali e ali eles deveriam esperá-los.
Olhavam todos os dias para o horizonte, além das fronteiras, para ver se o amor chegava e dia após dia era sim, infinitas esperas dos amores que nunca chegaram. A água acabou, a comida também. Assim como a alegria, os sorrisos e o brilho de seus olhos.
E quando pensaram em abandonar de vez a espera e partir para qualquer lugar que não fosse aquele, as colunas do grande Palácio Amarelo não resistiram a tanta tristeza, e como uma armadilha fatal, o Garoto Comprimido e todos aqueles que atravessaram mares e desertos em busca de seus amores, foram brutalmente soterrados pelas lajes e paredes da amarga morada.
Ouviu-se o som do Palácio ruir por todos os espaços, além da fronteira e logo espalhou-se a noticia sobre um grupo de pessoas que, ao buscar por seus amores, ficaram soterradas em meio aos escombros do que seria um dia o lugar onde a busca terminaria. Todos que ouviam a trágica noticia, sobretudo os que ainda não haviam encontrado o seu amor, temiam que debaixo dos destroços estaria aquele que nasceu para lhe trazer a felicidade do amor tranqüilo.
Porém, a difícil viagem, a dura travessia e a falta de forças para levantar as pedras, fez com que todos desistissem do resgate. Preferiam acreditar, e assim arriscar, que o seu amor lá não estivesse e lamentando o ocorrido, esqueceram os pobres soterrados. Mas havia outro garoto, o Garoto Kamikaze, que também sonhava com o amor tranqüilo. Não querendo passar a vida imaginando que seu amor poderia ou não ter sido soterrado, ele pegou a mochila, colocou seu mundo dentro dela e partiu até as ruínas além de suas fronteiras.
Fazer a viagem não era coisa fácil. Estava cansado de amores findados e mal resolvidos. Não sabia se deveria ainda crer nesse que ele não sabia o nome e o sobrenome ou se devia insistir na procura do tal amor já experimentado, com nome, sobrenome e até endereço, endereço esse fácil, próximo, ao seu lado, mas que havia lhe deixado um sabor amargo. Nas dúvidas todas, o Garoto Kamikaze decidiu seguir o seu coração.
Ao chegar nas ruínas do Palácio ele nada via a não ser um monte de concreto e ferro retorcido. Um amontoado de pedra e poeira esmagando pessoas desesperadas por amor e que agora pediam para viver. Foi quando ele ouviu alguém cantar baixinho e, naquele instante, sentiu o coração disparar. Com uma força que ele não tinha, com uma agilidade nunca vista, o Garoto Kamikaze foi retirando as pedras, uma a uma. E depois de horas ele encontrou o seu amor. Era o Garoto Comprimido que lhe sorria e que reconhecia ali, sem mais lágrimas para chorar, o amor que o havia levado até ali.
- Demorei? – perguntou o Garoto Kamikaze.
- Não. – respondeu sorrindo o Garoto Comprimido – O amor nunca chega tarde, ele sempre chega na hora certa.
E então o Garoto Kamikaze retirou do meio das pedras o seu amor. Com todo o carinho do mundo o levou de volta. O levou para o lugar onde eles construirão a casa deles.

(...)

Ás vezes as pessoas não percebem onde o que elas acreditam as podem levar. Salvam outras, sem notar. Nos devolvem a vida e nem percebem que fazem isso. Nos devolvem a vida em cada gesto de carinho, em beijos singelos e em olhares calmos. Coisas simples, pequenas, mas que podem significar muito para alguém. Mas tem pessoas que não tem a coragem de tirar os seus amores soterrados pelas pedras e assim, as abandonam na crença de que não são os seus amores que sofrem as tragédias que eles evitam crer que não existe. Há milhares de pessoas soterradas aguardando o resgate. Milhares de pedras amassando amores tranqüilos pelo mundo. Eu posso dizer que fui salvo. Eu posso dizer que no momento em que vi a luz e ele estava lá, cansado e sorrindo pra mim, eu tive naquele momento a vida devolvida. E por isso os meus dias serão pra ele.