31.10.06
Entre por essa porta...
29.10.06
Corda bamba da auto-sabotagem
28.10.06
Retrospectiva ou O Melhor e O Pior de mim
26.10.06
Sou um cachorro no cio?
22.10.06
Váatéteumoço
“Quando penso em alguém só penso em você e ai então estamos bem”. É a frase mais verdadeira que existe nesse momento pra mim. Tudo bem que ainda não passou o efeito da pressurização da cabine. A viagem foi rápida, mas o suficiente pra me conceder respostas dignas. Estou feliz e isso é fato! Discorde e vá brincar com sapos! A loucura está além de vossos olhos, então como me acusar de um crime que desconhece? Estou fazendo a coisa certa caro pirralho de cabelos grisalhos. Ô sim! Grande Mestre dos Abaetés Maduros! Quem diz o que não faz já está querendo deduzir o que vai fazer! Eu já disse que vou e está encerrado. Arpoador que me aconchegue na pedra fria da noite que vira dia. E me prometa que não vai faltar rimas, cantigas e biribinhas. Deixe as velhas discutirem, não se apegue na bateção e escute mais o que te diz o coração. Há um Moço encantado, se sorriso prateado, o sotaque é engraçado, chia como a onda do mar. E ele está lá esperando o Moço. Sentindo a saudade que sabes bem como é. Te procura no teu cheiro e não há nevoeiro que não se note tal amor. Perguntei a mim mesmo e a resposta veio macia em ouvidos duros. E entrando com o vento lento, em movimentos leves e intensos, como onda invisível e distinta do ar que lhe cerca. Foi entrando e contornando os medos e os terríveis questionamentos. Foi desendurecendo coisas a muito endurecidas. E ouvindo tua própria voz, palavra bem cantada, nuvem de bom sentimento, ouviu de si a razão de si. “Eu o amo. Eu realmente o amo”. Saiu repetido seguido de um riso estonteante, olhos fechadinhos e um olhar cambaleante de felicidade. O anjo postado em forma de amigo querido, abre seu peito e te encolhe lá dentro. Sem mimos e exageros, o anjo lhe entende na forma mais absurda de entendimento. O olhar vai dizendo, o coração salpicando e a resposta veio. Não há mais dúvidas. O teu caminho tá pronto Seu Moço. Não volte sem o outro Moço e pequenas abelhinhas. Tem Sol do lá de lá, passe o tal do protetor solar. E seja feliz. Serei eternamente feliz.
21.10.06
Até mais, Ibirapuera
- Sim, só preciso sair um pouco.
- Você nunca me liga.
- Eu não ligo pra ninguém.
- Do que você está precisando?
- Que idéia errada que tem de mim.
- É o que me faz pensar. Se não liga pra ninguém e resolve me ligar é porque quer alguma coisa.
- Não é verdade. As pessoas mudam.
- Por isso que gostam tanto de você. Por causa da sua incapacidade de mudar.
- Já leu Caio Fernando Abreu?
- Algumas coisas, por que?
- Tem uma frase dele que diz assim: “mudei muito e não preciso que acreditem na minha mudança para que eu tenha mudado”.
- Ok. Você mudou e estou quase convencido disso, o que quer comigo?
- Quero dar uma volta.
- Comigo?
- Sim, com você.
- Jamais pensei que esse dia chegaria, tanto que te chamei para essa voltinha. Tomou algum pontapé na bunda ou algo parecido?
- Você ficou ácido com o tempo.
- As pessoas mudam.
- Estou indo embora para o Rio.
- Você?
- É. As pessoas não só mudam. Elas se mudam ás vezes.
- Quando?
- Agora. No inicio do ano. Então, quer me ver?
- Quero. Onde?
- Ibirapuera. Na Praça do Porquinho. Te espero.
(...)
- Olá!
- Oi.
- Que frio!
- É, tá muito frio.
- Vai sentir falta?
- Do frio?
- É.
- Não sei dizer. Acho que sim. Sinto falta das coisas.
- Sente falta de mim?
- Sim, e você?
- Sabe que sim.
- Agora eu sei apenas o que as pessoas me dizem. Prefiro não adivinhar o que elas pensam.
- Mas você sabe que eu sempre te amei.
- Acho que nem você sabe disso. O que temos é um carinho grande.
- Fale por você.
- Sinto um carinho enorme por você e por isso o chamei aqui. Poderia ter chamado milhares de outras pessoas antes de partir e escolhi você.
- Por que está indo embora?
- Hoje eu sei porque te deixei.
- Por que está indo embora?
- Eu o encontrei.
- Você é maluco.
- Essa é uma das razões. Você não era maluco o suficiente para mim.
- Qualquer um acharia isso bom.
- Não eu.
- Você nunca desistiu, não é?
- Nunca.
- Como sabe que o encontrou?
- Sabendo.
- Eu não fui “ele” um dia?
- Não.
- Então por que ficou comigo.
- Por um instante pensei que não o encontraria. E você era bom o suficiente pra calar a minha busca.
- Você me chamou aqui pra isso?
- Não. Sim. Não. Não sei.
- Eu ainda tentei ficar com você mesmo depois de tudo.
- Por que? Por que queria ou achava que ninguém mais ficaria comigo?
- Porque eu te queria.
- Eu sei e achei lindo o seu gesto, mas não era você.
- O que está tentando fazer? Me libertar?
- Veja como quiser ver.
- Eu já não te amo como amei um dia.
- Eu sei.
- Então não tinha porque me chamar aqui pra contar das suas maluquices.
- Não é o que você está pensando.
- Ir para o Rio de Janeiro atrás de uma pessoa que você sabia que existia e que só não sabia o nome, o sobrenome, se gostava de geléia é maluquice!
- Tanto eu sabia que ele está lá me esperando agora.
- Qualquer um que aparecesse você diria o mesmo.
- Eu disse pra você?
- Não.
- Sinto muito.
- Tudo bem, desculpe.
- Eu precisava lhe dizer. Não posso partir sem antes deixar claro que te deixei porque ele estava me esperando.
- Antes pouco me importava porque você havia me deixado. Você me deixou e nada mudaria. Mas se diz que me deixou para encontrar o seu desconhecido e isso aconteceu, fico feliz por você.
- Obrigado. Você não mudou nada.
- Você também não.
- No nosso caso é bom não mudar, não acha?
- Acho. Prefiro você assim.
- Hoje eu sou quem eu sempre quis ser.
- Dá pra ver nos seus olhos. E São Paulo?
- Amo São Paulo. Paulista, Consolação, Liberdade, vou sentir falta. Mas o meu coração me manda pra lá.
- Sempre admirei pessoas que seguem o seu coração.
- Eu preciso ir. Não posso ficar aqui e pensar o que teria sido se eu tivesse ido. Não faz sentido agora. A minha felicidade está lá, num sorriso lindo, de sotaque mágico, é o que quero.
- Vou sentir a sua falta.
- Eu também.
- Que tal andar de bicicleta?
- Acho ótimo.
- Ei, você o ama?
- Sim, muito, como nunca amei ninguém.
- Então ele é um carioca de sorte.
19.10.06
Arpoador
10.10.06
Para a pequena Eva
6.10.06
Arrumando malas
4.10.06
É daqui pra frente!
1.10.06
Aos Amores Amassados
Um dia disseram a eles que seus amores os aguardavam no Palácio Amarelo. Então, esse grupo de pessoas, com os corações abertos ao amor, caminharam até o lugar que vossos amores lhe esperavam. O Garoto Comprimido era uma dessas pessoas. Apesar de como o chamavam, Comprimido, por diversas vezes ter sido isso e apenas isso na vida de seus desamores, o garoto jamais desistia de encontrar aquele que não o usaria como uma cápsula doce.
Obcecado por esse desejo de paixão, de dias cúmplices, sorrisos singelos, carinho na mão, ele caminhou por lugares escuros, por lugares claros, por lugares que não eram lugar algum. E apesar da chuva de alfinetes, do vento gelado, das estradas longas, dos buracos todos, ele não desistiu e um dia chegou ao Palácio Amarelo com seus obstinados companheiros de viagem.
Ao entrar nos salões do imponente Palácio, o Garoto Comprimido e os demais notaram que ninguém os esperava. O Palácio Amarelo não passava de salas e salões e corredores frios e vazios, onde não se via e não se sentia qualquer tipo de amor correspondido. Pensaram em voltar, fazer a viagem inversa, mas logo perceberam que não havia volta. A promessa do amor de uma vida os trouxe ali e ali eles deveriam esperá-los.
Olhavam todos os dias para o horizonte, além das fronteiras, para ver se o amor chegava e dia após dia era sim, infinitas esperas dos amores que nunca chegaram. A água acabou, a comida também. Assim como a alegria, os sorrisos e o brilho de seus olhos.
E quando pensaram em abandonar de vez a espera e partir para qualquer lugar que não fosse aquele, as colunas do grande Palácio Amarelo não resistiram a tanta tristeza, e como uma armadilha fatal, o Garoto Comprimido e todos aqueles que atravessaram mares e desertos em busca de seus amores, foram brutalmente soterrados pelas lajes e paredes da amarga morada.
Ouviu-se o som do Palácio ruir por todos os espaços, além da fronteira e logo espalhou-se a noticia sobre um grupo de pessoas que, ao buscar por seus amores, ficaram soterradas em meio aos escombros do que seria um dia o lugar onde a busca terminaria. Todos que ouviam a trágica noticia, sobretudo os que ainda não haviam encontrado o seu amor, temiam que debaixo dos destroços estaria aquele que nasceu para lhe trazer a felicidade do amor tranqüilo.
Porém, a difícil viagem, a dura travessia e a falta de forças para levantar as pedras, fez com que todos desistissem do resgate. Preferiam acreditar, e assim arriscar, que o seu amor lá não estivesse e lamentando o ocorrido, esqueceram os pobres soterrados. Mas havia outro garoto, o Garoto Kamikaze, que também sonhava com o amor tranqüilo. Não querendo passar a vida imaginando que seu amor poderia ou não ter sido soterrado, ele pegou a mochila, colocou seu mundo dentro dela e partiu até as ruínas além de suas fronteiras.
Fazer a viagem não era coisa fácil. Estava cansado de amores findados e mal resolvidos. Não sabia se deveria ainda crer nesse que ele não sabia o nome e o sobrenome ou se devia insistir na procura do tal amor já experimentado, com nome, sobrenome e até endereço, endereço esse fácil, próximo, ao seu lado, mas que havia lhe deixado um sabor amargo. Nas dúvidas todas, o Garoto Kamikaze decidiu seguir o seu coração.
Ao chegar nas ruínas do Palácio ele nada via a não ser um monte de concreto e ferro retorcido. Um amontoado de pedra e poeira esmagando pessoas desesperadas por amor e que agora pediam para viver. Foi quando ele ouviu alguém cantar baixinho e, naquele instante, sentiu o coração disparar. Com uma força que ele não tinha, com uma agilidade nunca vista, o Garoto Kamikaze foi retirando as pedras, uma a uma. E depois de horas ele encontrou o seu amor. Era o Garoto Comprimido que lhe sorria e que reconhecia ali, sem mais lágrimas para chorar, o amor que o havia levado até ali.
- Demorei? – perguntou o Garoto Kamikaze.
- Não. – respondeu sorrindo o Garoto Comprimido – O amor nunca chega tarde, ele sempre chega na hora certa.
E então o Garoto Kamikaze retirou do meio das pedras o seu amor. Com todo o carinho do mundo o levou de volta. O levou para o lugar onde eles construirão a casa deles.
(...)
Ás vezes as pessoas não percebem onde o que elas acreditam as podem levar. Salvam outras, sem notar. Nos devolvem a vida e nem percebem que fazem isso. Nos devolvem a vida em cada gesto de carinho, em beijos singelos e em olhares calmos. Coisas simples, pequenas, mas que podem significar muito para alguém. Mas tem pessoas que não tem a coragem de tirar os seus amores soterrados pelas pedras e assim, as abandonam na crença de que não são os seus amores que sofrem as tragédias que eles evitam crer que não existe. Há milhares de pessoas soterradas aguardando o resgate. Milhares de pedras amassando amores tranqüilos pelo mundo. Eu posso dizer que fui salvo. Eu posso dizer que no momento em que vi a luz e ele estava lá, cansado e sorrindo pra mim, eu tive naquele momento a vida devolvida. E por isso os meus dias serão pra ele.