26.10.06

Sou um cachorro no cio?

Um dia eu ascendi uma vela e rezei pra lua que não mais me preocuparia com os olhares alheios. Existiu um dia, dias perfumados pelo perfume doce da confidente de cabelo engraçado, que eu prometi que buscaria a tranqüilidade nas essências. Acontece que estão me olhando como um cachorro no cio, e por mais que eu tenha feito promessas, esses olhares me fazem pequenino, fazem voltar os cinco anos. Então ou eu sou um cão no cio ou uma criança de cinco anos com o nariz escorrendo. Eu assistia Bagdad Café e tinha sonhos que hoje acontecem com o meu toque, em rápidas palavras e em fotos mal tiradas. Eu tive sonhos e hoje eles deixam de ser sonhos. Coisas tão perfeitas e que de tão perfeitas, assustam. Certas Coisas tão bem colocadas, tão bem feitas pra mim, só pra mim, tudo aquilo que eu só via do outro lado da projeção e que hoje, de forma mágica, se projeta dentro de mim. E talvez, a facilidade com as letrinhas, não traduza tão fielmente um discurso que pode até parecer reciclado, copiado de outros discursos de outros dias meio vividos. E por mais que eu tente provar que não é uma repetição, eu me tornei um Paco no cio ou um Pipinho no jardim de infância. Meus sonhos são diminuídos à pequenas insanidades, como utensílio de moda ou estação do ano, logo passa. Não culpo os meus observadores, eles não ouvem ou sentem o que eu posso sentir. Eles não ouvem o chiado do mar perto mesmo estando longe. Por mais que eu fale, que escreva coisas como essa, eles jamais saberão o que mora agora dentro de mim. Recorro a todos os meus anjos na busca de saídas e soluções, vejo o esforço dessa massa feliz coletiva tentando me empurrar do galho pra alçar vôo. E é quando me dá o medo, pois a gente aprende desde que nasce a duvidar de tudo aquilo que é perfeito. Eu tenho medos, eu sou normal. Não, eles não me dominam ainda. Sim, eu continuo sendo normal. O fim de ano é assustador, ele nunca me abraça. E temo que o fim do ano seja mais uma passagem triste de sonhos que não deixaram de ser palavras. Mas vai dar tudo certo. Um dia vão poder me olhar diferente, não como um cachorro no cio e sim como um cão feliz abanando o rabinho de felicidade.

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