29.10.06

Corda bamba da auto-sabotagem

Quando, num futuro próximo, eu receber a mensagem que eu mesmo me enviei, saberei dizer mais sobre mim e minhas verdades. Eu tinha a complexidade otária de complicar as coisas. Confesso que ainda tenho um resquício desse triste desprazer e preciso de ajuda para me deter. Desisti muitas vezes. Desejava ser comum por mais que comum não houvesse em minhas formas. Eu sempre quis ser o outro que não era eu. E assim, de dor em dor, de partida e desistências, eu tentava, ainda que de teimoso, fazer-me diferente. Chegar a quem se é não provoca bolhas nos pés ou calo nas mãos. Ser a quem se é, experimentar a pura sensação de liberdade pertence a todos. Acontece que alguém um dia inventou de se distanciar dela e todos os outros, seguidores burocráticos, insistiram de fazer igual. E nesse efeito dominó, coisa de séculos ou dias, eu me vi querendo repetir as repetições repetidas dos artistas. Me vi querendo o que não queria, como postar-se diante de imensa mesa e vomitar nas porcelanas antes de servido o banquete. Se fartar de vomitar coisas, abandonar pessoas, desistir de planos, abortar projetos e sufocar sonhos. Isso é o que é viver para muitos. A dor esconde-se na falta de dúvidas, de tédios, de amigos cretinos. Eu quase me afundei na imensidão dos perdidos, e hoje me encontro entre duas forças que me empurram em sentidos opostos. Tenho um novo sentido e novas cortinas se abrem. Ele baila meio descompassado, sorri tendencioso, insinua saber onde esses passos nos levarão. E eu, inundado de pequenos medos e grandes esperanças, tento enxergar como meu querido estranho. E em seus passos, ainda que desastrado, tento me encontrar. No seu ritmo, no seu jeito doce de me chamar de anjo. Eu preciso de um pouco de calma, de muito entendimento, de uma mão estendida e um copo de suco. Eu preciso tirar a coragem que tá escondida lá dentro daquela caixinha e abrir a vento. Permitir que ele me carregue, que mostre o caminho que sempre sonhei seguir. Está muito próximo, posso tocar. E tenho medo, pois quando isso aconteceu, certa vez esquecida, o toque não foi o suficiente. Ver fugir de ti os sonhos que te ensinaram a pisotear? Não é a sensação que quero sentir. Talvez seja por isso que nobres anjos assoprem com veemência que devo seguir mais uma vez o meu coração. De mostrar, para o sujeito que abrirá sua própria mensagem no futuro vindouro que ele estava certo. Que foi a opção acertada, pois encontrar um amor como esse não é para qualquer. Para você, que sabe de todo o meu sentir, só me embale com seu jeito jeitoso, me mostre a nossa calma e nos levará aos dias calmos sempre esperados.

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