Fui andando. As pessoas já não me reconheciam. Era o sinal que aquele lugar familiar já não era mais a minha casa. Então onde é a minha casa agora? “Onde estão os seus sapatos” – disse certa vez. Borrei bastante o papel e na figura abstrata tentei ver o meu futuro. Se não há nuvens, céus limpos de primavera com jeito de verão, eu me imagino no borrão. Poderia gritar que meus desconhecidos não me ouviriam. A dor é sentida assim, no doer solitário, na falta de entendimento, na apatia dos outros. A indiferença um dia ainda me mata. Me chuta, me xingue, me bata, me perca! Me estremeça! Verei amor nas botinadas, verei calor no tapa na cara amarrada pelas coisas que deveriam ser e que não são. Quanta vergonha! Onde posso me esconder? Eu queria um canto aconchegante e promessas felizes. Frutas e suas mordidas. Esse prazer, essa dor, esse sentir seja como for. E fui andando, e olhares desprezíveis para asas a muito desprezadas. Listas de adeus, sentimentos soltos, pedaços perdidos, fatias de amores enrugados, como aquele menininho amarelo que passa horas brincando na água. Na lembrança triste da morte dos gafanhotos. Nas lágrimas infantis daquelas tardes. E fui andando sem olhar para trás. Uma jamanta do Caio pode me alcançar e ainda há tempo de tentar. Podemos ser, mas ser é muito pouco. Ser muitos são. Ser com você é mais divertido. Então volte. Estou caminhando e os indiferentes fingem que não estão me vendo. Mas eu estou aqui, passos quase perfeitos, seguindo até você. Seja lá, seja cá, ou acolá. Também posso te esperar. As cortinas vão se abrir e o sorriso preciso é o meu presente maior, da vida que dou, assim, sem dor.
24.11.06
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