19.11.06

Vendaval

Ando inclinando para milagres. Escolho um santo, São Paulo, em fim, e espero. Talvez São Sebastião seja um santo de sonhos lindos e proibidos pra mim. Não sei se tenho a consciência doce ou se a visão está distorcida. Hoje não vou dormir com a janela aberta, o vendaval chegou. Não vou sair do meu sono tumultuado para visitar quem não me vê. Cansei de acordar assustado, então devo me cansar antes de dormir e acordar com o cabelo amassado, meias no pé, sem sonhos, sem pesadelos. Não trazem aquele comprimido de ânimo que tanto anseio. Todos esperam. Eu olho a camisa colorida que embalei o meu coração doente naquela noite e o que fazer agora? Continuar empilhando livros em busca de soluções para as dúvidas? A sensação é que o trem partiu e mais uma vez me esqueceram. Querido L, onde estás é frio, não pode zangar comigo do lado de lá. Então o Querido E, que também está longe, na proximidade quente do trópico, não mais olha como antes. Passou como lamento e me entregou ao Querido R, o mais perto e o mais longe dos Queridos. Ele guarda algo que é meu e que não terei mais. Ele brinca e posso apenas me orgulhar daquele ato de um ano atrás. Então resta o Querido J, sem saber ao certo o que fizemos um pelo outro. Na passagem branca dos dias passados, nós nos ajudamos. E agora estou aqui aguardando o chamado, empilhando livros, fechando e abrindo a janela. Vestindo meias pra lembrar da infância, desejando milagres, querendo ser feliz sem ter que jamais dizer “até logo”. Então comece com o violino, vamos fazer aquela cena pateticamente dramática que repete todas as noites em meus pesadelos. No desespero da descoberta, no amor destruído. Na roupa que rasgam a procura de provas. No sangue que escorre do nariz. Do meu olhar de desistência, no meu olhar de perda naquele olhar de culpa do outro que permitiu que a dor se instalasse. É uma loucura! Preciso dormir. Preciso daquele comprimido, será que não percebem? Preciso de respostas, preciso que veja como vejo. Não quero mais escolher sozinho. São Paulo vai interceder por mim e pode ser que ele me prenda aos seus pés. O vendaval passou.

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