16.11.06

Uma semana de atraso

Não sei. Não sei o que escrever. O dia até que anda passando rápido com esse horário de verão, mas são viradas de dias tão repetidos que parece que não estou saindo do lugar. É o mesmo frio gelado, a mesma porta para abrir, o mesmo bom dia, a cadeira, o vazio, o silêncio, as dúvidas. Vou pensando coisas, vou querendo dizer coisas e então me censuro, aborto, me calo, deixo pra lá. É apenas uma loucura e todos dizem que tenho que relaxar. Ouço isso com leve riso, olho pro lado e o silêncio está ali me espreitando, o silêncio preenchendo o vazio ou o vazio revelando o imenso silêncio desses dias. Viro o olho pra lá, viro o olho pra cá. Não! Não quero abrir a cortina. É a mesma árvore a cinco anos. A mesma rua, a mesma cor de céu, os mesmos carros e até as mesmas pessoas. A persiana cinza confere um tom ainda mais cinza para esses dias cinza de espera. Não que seja de todo ruim esperar, mas para a minha ansiedade, a espera é como um veneno que me consome pouco a pouco. E tentam aliviar a dor da morte lenta com otimismo, dizendo que tudo vai dar certo, que é o momento, que basta relaxar. Ok! Vocês venceram, não vou duvidar tanto de mim agora. Apesar que ontem a noite me deu um frio na barriga diferente. Aquela velha coisa de se projetar no futuro, em outro lugar que não aquele confortável em que se está e então me vi só, querendo ligar para alguém de voz confiável, de voz familiar e abraço sincero. Me vejo entre medos e ansiedades, uma combinação feroz que me joga contra a parede ainda que estático permaneça. Então posso olhar o relógio e sorrir porque é uma hora a menos. Posso sorrir com o fim do filme, passou mais duas horas. E outro sorriso porque passaram alguns minutos e estou mais próximo do reencontro do que da nossa última despedida. Depois de escrever essas palavras sem sentindo que querem desesperadamente ser compreendidas, eu me divido entre aquele que quer apagar tudo, fingir que nada está acontecendo e entre um outro que quer erguer a espada no largo e berrar para que ouçam, os que estão perto e ele que está longe, que tudo é difícil mas que preciso de compreensão. Que preciso de palavras sinceras e que não jogo mais tão bem com as mentiras. Descobri que não são promessas o que quero dele, quero apenas sinceridade para poder determinar os meus passos. Quero o mesmo que muita gente nessa rua patética tem, a convivência declarada num anel, nos anos que orgulhosamente contam, na cumplicidade sentida mesmo que atrás da persiana cinza. É apenas isso que quero, ser feliz, poder entregar o meu coração para alguém sem medos, sem essa mania suicida de achar que ele vai destroçá-lo e que o devolverá em mil pedaços. Ele é diferente e por mais que o mundo diga que não, que as experiências me digam que é inútil prever os futuros dias, no máximo se preparar para o pior, eu sei que ele é diferente. Sei por que o amo. Sei por que ele mostrou que tenho a capacidade de amar alguém e que se ele me amar também, poderemos em fim dar as mãos e viver o que sempre sonhamos naqueles dias ruins e rotineiros em que apenas nos sabíamos.

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