18.11.06

Sobre meias furadas e mariposas

Já não lembro muito do lugar onde, nos meus pequenos dias, eu te vi. Era uma noite quente. Postes iluminavam a rua e centenas de mariposas disputavam a luz. Não sei porque agora penso tanto naquela noite. A sensação era muito familiar. Como se eu tivesse que prestar muita atenção, pois um dia, provavelmente agora, eu saberia de todo aquele mistério. De alguma forma eu te soube ali. Sei porque ecoou dentro de mim todos esses anos as tais luzes amarelas. Eram elas me guiando até você. Eu me tornei a mariposa procurando por sua luz. Não cansei nem em dias muitos frios. Não desisti sem nem saber que era permitido desistir. Então juntei algumas armas para sobreviver. As luzes amarelas, essa coisa doida de escrever, ouvir repetidas vezes “Calling You”, olhar o mundo pela janela, brincar na chuva, colecionar histórias, recortes de jornais, retalhos de pessoas, vidas contadas em roteiros mal escritos. Tudo aconteceu, nas curvas tortas, nas retas longas, nos retratos que comprovam, nos pedaços perdidos, em todos os dias vividos, para que eu pudesse ter essa doce consciência. E o meu desejo é que não apenas me tenha, mas tenha esse caminho, que saiba desses caminhos. Que conheça os lugares que me levaram até você. E se cheguei com a “meia furada” é porque sabíamos que só você a poderia costurar. Pode pegar em minha mão. Será eu ali, do outro lado do palco, em meio a tantos, sorrindo orgulhoso. Eu vou até lá com você. Eu vou caminhar contigo nos seus sonhos. Então não tenha medo, pois já que conhece os meus, já que conhece a minha dor, sabe que podemos dividi-los juntos. Durma em paz, vou ficar aqui velando o teu sono e quando o meu chegar, deixo apenas a luz amarela a nos iluminar.

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