29.9.06

29 de setembro de 2016

Pra quem acredita na eterna rivalidade entre cães e gatos, brasileiros e argentinos, tucanos e petistas, eles estão ai pra provar que tudo isso é balela. Um paulista. O outro, carioca. Juntos a dez anos, o diretor e roteirista Clau Scissorhands (35) e o ator E-Miller (34) enfrentaram a ponte Rio-São Paulo, a via Dutra e as altas contas de telefone. Tudo começou pelo orkut, avançou por textos em blogs, conversas instantâneas por msn, torpedos de celular e quando viram estavam juntos. Enquanto E-Miller gravava no Rio, Clau recebeu nosso repórter da Tripa em seu apartamento na capital paulista.

Tripa: Vocês sempre ficam longe assim?
Clau: Nem sempre. O E tem muitos trabalhos no Rio e eu aqui em sampa, então a gente mantém um apartamento lá e outro aqui, fica mais fácil assim.

T: Mas onde é a residência oficial? Aqui ou lá?
C: Nem aqui e nem lá. A residência oficial fica em Plutão.

T: E onde fica Plutão?
C: Num lugar só nosso (risos).

T: Como exatamente vocês se conheceram?
C: Eu estava numa fase de viver de amor inventado. Sabe o que é amor inventado?

T: Não (risos) Aquele de quem falava Cazuza?
C: Então, amor inventado não tem nada a ver com tapa na pantera como você pode estar imaginando (risos). Eu queria viver um amor inventado, não necessariamente um amor de verdade, consegue entender? Então inventei que estava com alguém e ficava inventando situações ao lado dessa pessoa. Mandando cartas, dedicando músicas, levando comigo nos encontros com os amigos. Só que chegou uma hora que eu sentia falta que essa pessoa tivesse um nome, um sobrenome, gostos, um rosto...

T: (interrompendo) Falta de alguém de carne e osso?
C: Ainda não. Estava muito vago aquele amor inventado. Era apenas uma moldura, eu queria a tela, sabe? Não queria conhecer alguém, só queria que alguém muito interessante me emprestasse o seu nome, o seu sobrenome, sem saber que estava me emprestando.

T: E como fez pra achar esse tal doador?
C: Comecei numa busca boba em perfis do orkut. Entrei em algumas comunidades que considerava bacanas e me lembro até hoje, foi na comunidade do filme O Casamento de Muriel, eu adorava aquele filme e então pensei: se eu adoro esse filme outra pessoa que gostar também só pode ser muito interessante (risos). Foi assim que encontrei o E.

T: Mas se você não procurava se envolver como diz, como que se conheceram? (repórter impaciente).
Clau: (risos) Calma. Acho que ele viu que eu visitava o perfil dele todos os dias. Porque como ele era o meu namorado, pelo menos na minha cabeça, eu entrava no perfil dele todos os dias. Até que ele leu o meu blog e leu um texto que eu havia escrito pra ele e deixou um comentário, deixei no dele, o adicionei no msn e nunca mais deixamos de nos falar.

T: Que coisa maluca! E ele sabia que o tal texto era pra ele?
C: Não. Só depois que eu contei.

T: E ele?
C: Agradeceu.

T: E você?
C: Fiquei preocupado que ele me achasse um maníaco (risos).

T: É uma linda história.
C: Eu tenho muito orgulho de como nos conhecemos.

T: E a coisa foi rolando pela internet?
C: Sim mas com cautela, até porque estávamos muito conscientes da distância, de que aquela coisa virtual é muito louca, as pessoas dizem o que querem com uma facilidade enorme, então fomos com calma, ele muito mais porque ainda estava gostando de alguém.

T: E você disse que não pretendia conhecer ninguém, estava curando alguma desilusão amorosa também?
C: Não, eu nunca fui de estender as minhas desilusões amorosas. Vivo, choro e pronto. Havia passado por uns momentos não muito agradáveis que nada tinha a ver com amor e estava me sentindo muito só, mesmo assim não queria conhecer ninguém. Achava que nunca mais conheceria alguém especial, então se não fosse pra viver algo especial e verdadeiro, que ficasse só.

T: E como foi quando o viu pela primeira vez?
C: Foi mágico. Eu estava descendo a escada rolante do setor de desembarque do Tietê. E ele estava lá, o E estava lá assustado já que era a sua primeira vez em São Paulo. Acho que devia estar pensando que foi uma pegadinha ou algo assim (risos), que eu não fosse aparecer. Ai quando nos vimos nos abraçamos e foi assim, sem aquela vontade de largar mais.

T: E foi amor a primeira vista?
C: Foi, ou melhor, eu me apaixonei nos minutos seguintes dentro do metrô. Quanto ao E eu não sei, nunca perguntei a ele. Mas eu me lembro que fiquei com a sensação de que ele não tinha gostado de mim, que só fui começar a achar de fato que poderia estar sendo correspondido quando ele já estava voltando pro Rio.

T: E quanto tempo ele ficou aqui?
C: Um final de semana.

T: O que ele conheceu de São Paulo? Ou melhor, o que você quis mostrar pra ele? (risos).
C: Fomos no Vegas, uma balada bacana na Augusta. Andamos na Paulista, Ibirapuera, Benedito Calixto, Espaço Unibanco onde vimos O Tempo que Resta de François Ozon.

T: Bastante coisa para dois dias?
C: É. Mas passou muito rápido.

T: Logo depois vocês fizeram Nevermind, o primeiro de muitos curtas juntos.
C: Sim. Ele voltou pro Rio mas nos víamos sempre. O engraçado que ele não conhecia São Paulo e eu apresentei pra ele e eu nunca tinha ido ao Rio de Janeiro, foi o E que me apresentou a cidade maravilhosa. Mas então, escrevemos Nevermind juntos e contracenamos também, foi uma experiência fascinante. Já estávamos apaixonados e toda aquela paixão ficou explicita ali.

T: Será que é por isso que Nevermind é um dos seus trabalhos mais elogiados?
C: (risos) Se for pelo amor que tenho pelo E, todos os meus trabalhos deveriam ser elogiados (risos).

T: O fato dele ser um ator famoso, assediado pelos fãs, não te incomoda?
C: Eu conheci o E antes disso tudo acontecer. Eu estive ao lado dele em cada peça, cada filme, cada conquista dele. Tenho muito orgulho de ter estado ao lado dele e ver ele realizar os sonhos dele. É como se fossem os meus próprios sonhos. Ver o E feliz é estar feliz.

T: E como foram esses dez anos?
C: Foram os melhores anos da minha vida. Eu sempre brinco que viver não é apenas estar vivo. Viver é viver algo que se acredita e eu sempre acreditei no amor. Sempre existiu dentro de mim uma crença muito forte de que alguém apareceria na minha vida. Tudo passou a ter mais sentido. Ter alguém pra voltar, pra contar como foi o dia, pra rir de coisas bobas, pra brigar pelo canal da TV, pra querer sempre mais, sabe? (emocionado)

T: Sei (risos). Achei que sei. Eu percebi que você se emocionou...
C: (interrompendo) Sim. Eu me emociono porque eu sei que são poucas as pessoas que tem a sorte de encontrar o amor de uma vida e eu tinha essa certeza desde os meus primeiros dias com o E. Parecia até exagero no inicio, coisa de adolescente, milhares de mensagens no celular, planos mirabolantes de ir morar no Rio ou de trazer ele pra cá, mas é porque eu sabia que era ele, eu via nos nossos olhos. (novamente emocionado) E sabe, ele me disse sim quando eu achava que minha vida seria seguidos nãos. Ele me salvou, me deu a mão quando eu não queria a mão de mais ninguém e isso emociona mesmo. Por isso que mesmo dez anos depois eu tenho medo que ele vá embora. E não porque acho que não vou encontrar mais alguém que me queira. Eu vou encontrar quem me queira. Mas eu nunca mais vou encontrar ele e eu sei que passaria meus dias procurando ele em outros naquela coisa de olhar e ver o rosto dele pelas calçadas, dentro dos ônibus, na televisão. Eu amo ele.

T: (repórter emocionado também) Só de ouvir você falar, eu consigo ver esse amor. Ele existe, eu vejo. (pausa) Vocês tem alguma música?
C: Temos muitas mas há uma que nos marcou muito, Último Romance dos Los Hermanos.

T: Por que?
C: Não sei dizer, há um trecho que traduz perfeitamente o que um quer para o outro que diz assim: me diz o que é o sossego que eu te mostro alguém a fim de te acompanhar.

T: E suponho que ele tenha dito o que é o sossego?
C: Sim e por isso estamos juntos. Ambos presenteamos o outro todos os dias com isso. Com segurança, com cumplicidade, com amizade, companheirismo, carinho e amor. Eu sei que é brega mas hoje, aos trinta e cinco anos eu tenho muito orgulho de me chamar de brega. Porque se brega é se apaixonar todos os dias pela mesma pessoa, então eu sou o brega mais feliz do mundo.

T: O que espera dos próximos dez anos?
C: Eu espero poder ler essa entrevista e sorrir com o E do meu lado. Poder olhar no fundo dos seus olhos e dizer: valeu a pena. É o que quero, ter ele ao meu lado, sempre.

27.9.06

Atlantic

Eu me divertia com a caixa de giz de cera e se alguém dissesse que aquilo era uma bobagem eu poderia então desenhá-lo com a cabeça grande, braço curto, perna longa e uma verruga na ponta do nariz. A vida era muito mais fácil, o prazer era sujar as mãos com o tijolo escrevendo meu nome nas calçadas até minha casa. Marcando o território de criança, o espaço infantil que agora mora naquela gavetinha pequenina entre as férias de meio de ano e os domingos de piscina. Já naqueles dias eu te procurava. Havia um mistério que me inquietava a procurá-lo nos brinquedos. Me fazia rabiscá-lo nas folhas e cantos das páginas dos cadernos. Eu procurei você quando nem sabia que você era alguém. Procurei quando nem sabia que você era você. Procurei sem saber que procurava. Sei que são palavras fortes. Sei que hoje qualquer um escreve o que quer, que descreve sentimentos que não existem, que nos emocionam com suas histórias inventadas. Mas eu não poderia mentir pra você porque seria mentir pra mim mesmo. Se me vejo dentro do seu olhar, então não posso mais mentir pra você. Então acredite quando digo que te procurei e que não te achei quando achei que tinha te achado. Foi um longo caminho até aqui. Foram longas procuras desencontradas. Quando penso em algum momento da minha vida penso em você no exato momento. O que estaria fazendo? Chorando quando eu sorria? Gritando enquanto eu me calava? Na calçada de Copacabana e eu no terraço do Copan? Não importa o que você estava fazendo, você não estava comigo. Eu não estou na sua lista de dia dos namorados, não sou motivo dos seus desabafos, não fui o responsável pelo seu primeiro beijo, nem pelo primeiro sorriso cúmplice. Você demorou mas chegou na hora certa. Você apareceu quando eu quase tinha perdido a razão, quando nem sorvete de uva me fazia sorrir. Você surgiu como esse sonho bom quando Plutão nem era mais planeta, quando eu havia desistido das canetas e quando eu nem mais sonhava com o coturno e com a lambreta. Agora tenho você e já não estou mais só. Agora é primavera e não posso dizer que procuro o que já encontrei. Então não importa o tempo que nos separou. Não importa os momentos que perdi não repousando ao seu lado. Há um céu pra cruzar, uma estrada pra gastar e muitas estrelas até Plutão pra contar. Hoje eu durmo mais cedo pra dormir mais e assim poder sonhar mais e mais. E o vendaval, o filme no sofá, o abraço na Paulista, a feira na pracinha, está tudo aqui, te esperando.
Não fui o primeiro... mas posso ser o último.

26.9.06

O dia da devolução ou O dia seguinte

Um dia eu acordei e um monstro com muitos braços, cabelo espetado e olhos para todos os lados me acordou e roubou coisas boas que havia em mim. Nesse dia, esse monstro sem nome, sem urros e sem outros barulhos, entrou por uma fresta, beijou-me a testa e deixou em mim aquela coisa que não se vê, que não se pode tocar e que por muito vai ficar comigo. E ele se foi pra nunca mais voltar. Viver faltando um pedaço requer cuidados especiais. Requer janelas largas, cortininhas coloridas, músicas especiais, geléias de morango e lambida de cachorro. É preciso beber água filtrada, palavras cruzadas, saquinho de risadas, filmes com pipoca, som de chuva e biscoito ou bolacha recheada. Viver faltando um pedaço é viver sem pensar no pedaço que falta e se pensar não se desesperar achando que ele está na lixeira da próxima esquina. É não ligar para as lamentações alheias, para os que só falam de trabalho ou dos descasos da vida, quando você vê os pedaços que faltam em você ali, completos neles. E quando você acredita que a vida vai ser assim, viver fingindo que não falta pedaço algum, surge alguém de longe, e sem saber (ou sabendo) lhe devolve as coisas boas que o monstro roubou. E devo dizer que ver o pedaço que faltava, abrir a caixinha azul e verde e ver lá dentro a luz antes perdida é o momento em que se pode dar conta de que viver é mais do que viver, seja completo ou faltando pedaço. Viver é ter a sensação de estar completo, apesar de todos os buraquinhos e nós. É se reconhecer no outro. É saber que pode sonhar porque a busca acabou e novas histórias serão escritas em lugares onde o monstro e seus braços não conseguem chegar.

25.9.06

A caminho de Plutão

Fiquei ali, do outro lado do vidro, segurando um choro que sairia gritado. Fiquei lá, braços cruzados de frio. Braços cruzados, imobilizados com a cena que acontecia na plataforma 29. A lágrima acumulou naquela bordinha baixa do olho, aquela mesma que em você é vermelhinha de alergia. Eu conseguia enxergar minha própria lágrima ali, se segurando toda pra não partir com você. E quando vi você sentar na poltrona 15 percebi que era a minha hora de voltar pra casa. Ainda pude te ver um último instante, como a última vez de uma última vida. Fiquei perdido na rodoviária uns dez minutos. Nem sei se procurava a saída. Fui caminhando em círculos, em meio às pessoas que iam e que chegavam. Me sentindo perdido, tentando entender daquele momento de minutos atrás, tentando entender o final de semana e as loucuras todas que haviam me levado até ali, ao saguão imenso do Tietê. E quando me dei conta que meu coração batia e que você estava lá, sorrindo pra mim, achei em fim o caminho e deixei o túnel da cidade me engolir e me misturar no mundo que você conheceu.

(...)

Cheguei em casa e o seu cheiro está aqui. Nos travesseiros. No lençol. Nas paredes. Há você aqui em todos os cantos. Nas músicas que levou, no roteiro, em mim. E então não consegui fazer outra coisa a não ser escrever. Dizer que é bom acreditar que vou morar em Plutão com você e que vamos plantar melancias e receber os bons amigos e que vamos dançar e que vamos acreditar cada vez mais. Meu olhar é por você. Os gestos, as idas aos médicos, os roteiros absurdos e os cansativos também. Os dias de trabalho, a natação, a sinceridade que pode doer em outros, tudo por nós. O tempo que nos resta é muito tempo. E a distância que nos separa, muito curta. São 18 milhões de pessoas e eu estou no meio delas e quem consegue me alcançar é você que está do outro lado da fronteira. Acreditei sempre e continuarei assim. Não quero um outro olhar, um outro sorriso, outro sotaque que não seja o seu. Não quero outro sonho que não os que poderei dividir com você. Não quero inventar palavras que não sejam lidas e relidas pela sua atenção silenciosa. Não quero e não vou tropeçar em outro pelas calçadas paulistas. Não vou mais me perder, portanto, sempre terás como me encontrar. Hoje eu li que o Brasil é uma República Federativa repleta de árvores e de pessoas dizendo adeus.

(...)

Mais tarde tenho a consulta. A realidade dói demais em alguns dias. A dor não física mas que sobe margeando a espinha, me cobre de medo, e sobretudo agora que tenho planos e casa pra construir. Mas são coisas que não devo fugir. Medo que tenho que tolerar. O desejo, mais do que antes, é que me seja dado o tempo para que eu possa te ver mais e mais e mais outras muitas vezes. Seja no abraço do Cristo, na garoa da Paulista ou no vazio de Plutão. Então, toda noticia boa hoje é mais que uma boa noticia. Tornou uma milha acumulada pra passagem que me levará até você em Plutão. Posso continuar acreditando? Posso focar em tudo o que lhe disse? Posso deixar de viver de mesmices? Posso crer que nos veremos novamente?

21.9.06

Um sorriso e um mundo inteiro!

Estou em algum lugar entre o sim e o não. Na mão aberta e escancarada do tesão. Vento na cara, a cara no mundo, o mundo no bolso e o bolso sempre vazio. E decisão decidida, as boas vindas, os novos dias de novos sabores e de reflexo admirável. Sou a exceção no seu mundo de não. Sou o feliz que pode sempre lhe sorrir e dizer sim. A vida é assim, de esperas esperadas em noites turbulentas onde lágrimas enchem piscinas onde outros se divertem. Nada mais assusta corações acostumados com os trens fantasmas. Nada mais pode assombrar com perguntas e rejeições que vem em caixinhas ecologicamente corretas. Tudo tão pronto e tão igual que o desejo é ser com uma vírgula a mais. Com um defeito exagerado e outro calmo. Palavras tortas e frase manca, eu ainda estou ali – com a alma aberta e louca esperando o que logo, muito em breve, quase agora, vai surgir e fazer rebuliço no mundo já muito bem rebuliçado e remexido do senhor da bagunça mal arrumada. Os dias vão ser assim: coisas que vem e que depois vão e que depois vem de novo pra um dia ir e pra no outro ficar de vez. Então me mostre a sua mão e eu posso te contar aquele segredo que ninguém sabe. Mostre que não estamos mais sozinhos e eu abro a janela quando amanhecer. E dessa loucura de ir e esperar, e nessa coisa doce e doida de acreditar nas melancias, o dia é mais que um simples dia. É magia vivida. É o que acontece quando se acredita...

18.9.06

Máquina de girar pessoas

Ando pensando muito sobre a espera. Conjuguei o verbo esperar em todos os tempos em todos os pretéritos, no passado, no futuro. Eu esperei. Eu espero. Te esperarei. Como eu poderia crer na beleza de suas letras? Como imaginar encontrar a felicidade na espera? Parece fim de filme mal acabado mas há uma beleza escondida nesse espaço entre o sentar, deixar o mundo girar e aquele momento que sentam ao seu lado e você pode estar ali, sorrindo, cansado e ainda assim sorrindo. Não me tirem isso. Não tirem a beleza dos dias calmos. Eu girava com o mundo e agora ele gira sem mim. Saí da roda. Preferi assim. E se você está ai dentro olhe aqui pra fora, posso acenar pra você! Posso sorrir pra você! Mas não posso entrar mais na roda que gira e que gira. Nos perderíamos dentro dela. Giraríamos entre círculos, você lá em cima e eu lá embaixo. Um “timing” desconexo, desajustado e apesar de querer a mesma coisa, a paz do amor tranqüilo, dos suspiros verdadeiros, estaríamos muito perto e muito longe. Ai dentro, dessa roda, eu seria mais um. Um qualquer. Aqui fora eu posso ser eu. Posso jogar milho para as pombas, cantar canção de ninar para o Pipinho, me fartar de olhares calmos e dias repetidos porém seguros. Posso te ver ai dentro girando e vivendo e se perdendo em tudo aquilo que tens que viver. Nessa máquina de lavar coisas, nesse giro doido, até que essa roda estúpida te vomite pra fora como me vomitou um dia e eu possa te pegar e dizer: “porque demorou?”. Mas enquanto isso não acontece eu fico aqui, ouvindo canções, me divertindo com aquele garotinho que mais parece um bonequinho de tão engraçado. E assim os dias lentos passam mais rápidos e posso senti-lo perto. Então rode, rode, um dia ela para.

15.9.06

All Star Azul

Eu sei que você não tá ai. Eu sei... Eu me sinto meio encolhido, sabe? Me encolhendo pra dentro de uma caixinha, de uma conchinha, de qualquer lugar pequenino e que eu possa caber lá dentro. Onde eu possa me esconder e ficar só com os olhinhos de fora. E essa música, e o azul, me lembram de quando eu era um menininho e eu nem pensava em sofrer pelas coisas que estou sofrendo hoje. Eu não pensava em doença, em gostar de pessoas, em ficar com o coração na mão e a mão no vazio. E ainda sim, sem tudo isso, eu me encolhia, eu abraçava as minhas perninhas finas como sempre e ficava lá, encolhido, escondido, com medo de alguém me encontrar, descobrir o meu nome... Eu me sinto esse menininho hoje. É o mesmo azul, o mesmo desejo, o mesmo desejo de só querer assistir o mundo mas não fazer parte dele. Eu nunca tenho a intenção de me apaixonar, mas às vezes acontece, né? E eu fico feliz porque eu ainda choro, porque ainda dói e vejo que eu não perdi as coisas bonitas que o menininho colheu pela vida dele. Eu sei que você não tá ai. Que eu tô falando pro vazio e pro azul. Mas tudo o que fiz na minha vida foi pra ser livre pra amar, e eu fui longe demais. Não tão longe assim, já que tô aqui hoje podendo escrever isso. Então eu tenho que sorrir, limpar o all star azul, me fartar de azul e acreditar com toda a força que um dia eu vou sair da conchinha. Mas hoje eu sou o menininho que fui a mais de vinte anos atrás. Hoje eu sou ele. E amanhã eu posso ser eu.

14.9.06

Certas loucuras, certas doçuras.

Versão em vídeo do post "Programmed to love"


12.9.06

Suspiros, interrogações, baús e tudo o que você quiser!

Eu esqueci de uma história que ela sempre me contava. Me lembro apenas da mesa, do suspiro doce e Biafra. Ando me lembrando de poucas coisas. Esses dias esqueci onde era minha casa e me lembrei que minha casa é onde estão meus sapatos. E já calçado, bem confortável, me lembrei que eu quero ser feliz e que cometeria a loucura que fosse, - a outros olhos – pra que isso passasse de desejo desejado a experiência bem vivida. Então me programei para amar, como te disse. Amar o amor tranqüilo, não aquele dos filmes ou que compramos em lojas de 1,99. Eu quero do amor e somente amor tranqüilo. Será que é demais? Tenho medo de exagerar no que quero, pois quando eu quero nada me satisfaz a não ser o que quero. Então querer é um perigo. Te querer é perigoso? Não sei, e se for, azar o meu, quem mandou dar uma de abelhudo e fuçar na sua vida? Eu sou assim, insaninho de palavras hábeis, coração na ponta da língua e língua no dedão do pé! Eu sou isso, percebe a dimensão da loucura? Hoje eu tô perguntador, né? Olha! Outra pergunta! O que é uma pergunta? Algo que vem antes da resposta? Bem, essa não é uma resposta, é outra pergunta. Então deixa a interrogação pra lá, eu não ando mais perguntando nada e prometo não te atormentar, tudo bem? Não tem jeito, outra pergunta. Deixa eu ver um assunto que te interesse... Adoro abrir baús velhos. Deixar aquele pó subir, tossir exageradamente e tirar de lá de dentro as coisas que muitas vezes são pessoas e pessoas que geralmente são pequenas coisas. Assim, eu serei um bom companheiro não só nas viagens à Plutão como para abrir com você os baús. Nos tornaremos os maiores abridadeiros de baús da região Sudeste. Digo Sudeste porque não quero ser pretensioso demais, vai que tem alguém no Acre medalista de ouro em abertura de baús? Outra pergunta! Desse jeito eu vou ser reprovado! E depois de esvaziar os nossos baús, a gente mergulha do alto de um lugar não muito alto (tenho horror a alturas altas). Não costumo largar a mão e mesmo que saiba nadar, tenho pavor a me ver sozinho no fundo. Então minha vida foi não mergulhar. Eu chegava até a beirada, olhava e desistia. Ou desistiam por mim, tanto fazia, a verdade é que não pulava. Mas também não vou falar sobre isso. São coisas bem passadas e que vão estar muito bem amarrotadas num dos baús empoeirados que quero abrir com você. Eu comecei dizendo que eu sempre esqueço das histórias e isso é verdade. Histórias são palavras e palavras se esquecem. Esquecem quando são ditas assim, por dizer. Mas essa história está pelo menos bem contada, não há porque esquecê-la, até porque é ela que vai me levar até a minha casa, meus sapatos e aquele sorriso cúmplice pela manhã.

10.9.06

Programmed to love

Eu disfarço mas estou sempre no mesmo lugar. O olhar por vezes se perde e quando sinto que estou longe meu corpo está ali, transformando coisas em coisas. Os mesmos delírios desconexos. As imagens do nada querendo dizer tudo o que se esconde lá dentro. Sou um pedestre invisível, e mesmo assim ando sempre pela calçada. Pegue em minha mão, estou programado para amar, programado para amar do amor tranqüilo. E se são apenas imagens, transforme isso num sentimento que brota e que transborda dos lados de cá. São tantas as coisas que preciso dizer, tantas palavras mal escritas, impensadas e outras tão repetidas mas de novo tom, nova intenção e o novo desejo de dias sem fim. O frio foi embora, mas aquela sensação gelada de não lhe ter ainda faz doer a cabeça e me faz crer que o amor começa a nascer longe, tão longe que não posso tocá-lo. Então, os dias vão ficando assim, um vai e vem infinito, de possibilidades perdidas, do querer sufocado, dos medos que nascem e morrem e que voltam a nascer. Em tudo aquilo que parece e é. Não há mais segredos e mentiras. Um dia eu também vou querer existir sem essa obrigação amarga de ser feliz. E nesse dia serei assim, livre e quem sabe, seu.

5.9.06

Arranhando azulejos

Uma forma de não pensar é pensar sobre o nada. Quando fico cansado, como ontem, não me mexo enquanto durmo. Então eu sei que estava cansado pois acordo com o cabelo amassado só de um lado. Já não sei mais do meu cansaço. Eu fico ali, olhando os azulejos, brincando como se eles fossem quarteirões de uma cidade, que aquela faixa de cimento ou massa ou sei lá o que entre eles são ruas dessa cidade. Sou um gigante admirando minha cidade bem projetada, com ruas bem retas e quarteirões todos do mesmo tamanho. É o que faço muitas vezes. Desvio pensamentos. Penso menos nas coisas que preocupam ou nas que podem me preocupar um dia. Tanta gente sofrendo por amor à minha volta, outros tantos experimentando as primeiras sensações próprias dos apaixonados e eu lá, entre eles todos e os azulejos. Eu gostaria que ele me quisesse. Eu queria que ele esquecesse seus fantasmas. Queria que a surpresa fosse mais que um roteiro. Mas acho que tudo isso é querer demais e aprendi a querer menos agora. Prefiro aceitar como for. Sei das limitações que não são limitações pra mim, mas não posso querer que todos brinquem com azulejos como eu. Não sei mais quanto tempo terei que esperar. Tá frio incrível, você está faltando em todos os lados e já não sei que placa seguir. Acho que vou ver o mar, sentir a areia, ficar horas deixando o mar me levar pra depois me vomitar de volta. Vou lá me despedir de algo que não terei mais. Vou até lá pra isso, pra fazer do feriado um ritual de passagem. Road Movie! Não me importo. Um dia acontece. Um dia acontece. Eu espero. Te espero.

4.9.06

O tempo que nos resta

Hoje pensei mais em você do que em outros dias. Louco. Não sei explicar essas coisas. Talvez eu não deva tentar convencê-lo que não sou nenhum maníaco, já que somos ambos maníacos confessos. O fato é que penso em você, e hoje, me peguei em vários momentos pensando ainda mais em você. Uma perseguição constante pelo seu nome, pela sua figura, sua risada, suas histórias, tudo aquilo que não sei e que nem sei se vou saber. Um ódio grande de estrada, de asfalto, de distâncias, quilômetros e essas coisas que só afastam as pessoas. Odiando o fato de ainda não existir um trem bala ligando as duas maiores cidades do país e que ainda assim são pequenas demais para dois de seus moradores. Hoje assisti O Tempo que Resta de François Ozon. Chorei do começo ao fim. Me identifiquei, me exclui, me reconciliei. Magia o que o cinema pode fazer com a gente. Nesse exato momento, às 00:52, confesso que choro compulsivamente. Não é choro de dor ou tristeza, é um choro meio contido meio largado e acumulado na falta do ombro certo para chorá-lo. Então fico assim, um chorão na madrugada escrevendo esquisitices pra um cara que nem conheço, mas que por alguma razão, como já disse sem explicação, atrai essa coisa louca de querer por perto, junto e fazer com que eu confesse tudo o que estou confessando. Está frio aqui. Mas do que já é na verdade. Congela as pontas dos dedos, sobe pelas mãos, braços, ombro, quando se dá conta, sem muito cuidado, chega-se ao coração que fica assim, petrificado gelado, sem bater, sem sentir, sem querer ou esperar. Manterei o meu aquecido por você. Nesse desespero louco, infindável, de querer e querer e te querer e querer... É isso. Era só isso que precisava. Não era pra contar do meu dia ou das minhas lágrimas. Era só pra dizer que estou bem e que fico ainda melhor quando penso em você. E igualmente: "se não me entendes, por favor, não me tentes". Um beijo.

3.9.06

Estado de emergência

Não consegui. O último belo passo faltou naquele salão onde meus pés grudam, onde a luz da TV me ilumina e onde a alegria parecia sem fim. Noite sem noite é assim, um resquício de algo bom que se perde em poucas horas e sobram apenas as engraçadas histórias e o arrependimento amargo. Já não é mais o meu lugar. Não me reconheço entre os meus. Uma vontade imensa de partir, desse lugar de sol fraco, de palavras limitadas, de falta de amigos sinceros, entendimento, de falta de tudo. Poderia ser fácil sumir pra rua de cima, me exilar dentro da própria cidade e esperar o sonho bom vir lá de longe consolar esse momento. Então volto às esperas e penso que isso não tem fim. A espera nunca tem fim. Como filme bom de final mal acabado, mas que ainda assim enche os olhos d’água doce e azul clara. É sempre assim e vai ser assim sempre. O fim do ciclo. Estava fácil demais, encontrei a pedra que vou ter que quebrar em milhares de pedaços. Se já não me entendem já não posso estar entre eles. Uma negação total do apoio, uma negação total daquela coisa que sentimos por quem amamos. Aquele olhar simplista para coisas complexas, ou o demasiado complexo para as certas coisas simples da vida. Não sou mais um. Não posso ser mais um. Dane-se a música, dane-se a minha falta de coragem, dane-se o fato de não poder me embebedar e curtir pelo avesso. Dane-se a falta de sensibilidade, de companhias agradáveis, de risadas sinceras. Danem-se todos! Basta esperar. Um dia eu tomo coragem e abandono. Um dia eu tomo coragem e chego junto. Um dia eu tomo coragem, me canso das esperas e pego o primeiro avião que passar.
Estou em estado de emergência.