27.9.06

Atlantic

Eu me divertia com a caixa de giz de cera e se alguém dissesse que aquilo era uma bobagem eu poderia então desenhá-lo com a cabeça grande, braço curto, perna longa e uma verruga na ponta do nariz. A vida era muito mais fácil, o prazer era sujar as mãos com o tijolo escrevendo meu nome nas calçadas até minha casa. Marcando o território de criança, o espaço infantil que agora mora naquela gavetinha pequenina entre as férias de meio de ano e os domingos de piscina. Já naqueles dias eu te procurava. Havia um mistério que me inquietava a procurá-lo nos brinquedos. Me fazia rabiscá-lo nas folhas e cantos das páginas dos cadernos. Eu procurei você quando nem sabia que você era alguém. Procurei quando nem sabia que você era você. Procurei sem saber que procurava. Sei que são palavras fortes. Sei que hoje qualquer um escreve o que quer, que descreve sentimentos que não existem, que nos emocionam com suas histórias inventadas. Mas eu não poderia mentir pra você porque seria mentir pra mim mesmo. Se me vejo dentro do seu olhar, então não posso mais mentir pra você. Então acredite quando digo que te procurei e que não te achei quando achei que tinha te achado. Foi um longo caminho até aqui. Foram longas procuras desencontradas. Quando penso em algum momento da minha vida penso em você no exato momento. O que estaria fazendo? Chorando quando eu sorria? Gritando enquanto eu me calava? Na calçada de Copacabana e eu no terraço do Copan? Não importa o que você estava fazendo, você não estava comigo. Eu não estou na sua lista de dia dos namorados, não sou motivo dos seus desabafos, não fui o responsável pelo seu primeiro beijo, nem pelo primeiro sorriso cúmplice. Você demorou mas chegou na hora certa. Você apareceu quando eu quase tinha perdido a razão, quando nem sorvete de uva me fazia sorrir. Você surgiu como esse sonho bom quando Plutão nem era mais planeta, quando eu havia desistido das canetas e quando eu nem mais sonhava com o coturno e com a lambreta. Agora tenho você e já não estou mais só. Agora é primavera e não posso dizer que procuro o que já encontrei. Então não importa o tempo que nos separou. Não importa os momentos que perdi não repousando ao seu lado. Há um céu pra cruzar, uma estrada pra gastar e muitas estrelas até Plutão pra contar. Hoje eu durmo mais cedo pra dormir mais e assim poder sonhar mais e mais. E o vendaval, o filme no sofá, o abraço na Paulista, a feira na pracinha, está tudo aqui, te esperando.
Não fui o primeiro... mas posso ser o último.

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