Pra quem acredita na eterna rivalidade entre cães e gatos, brasileiros e argentinos, tucanos e petistas, eles estão ai pra provar que tudo isso é balela. Um paulista. O outro, carioca. Juntos a dez anos, o diretor e roteirista Clau Scissorhands (35) e o ator E-Miller (34) enfrentaram a ponte Rio-São Paulo, a via Dutra e as altas contas de telefone. Tudo começou pelo orkut, avançou por textos em blogs, conversas instantâneas por msn, torpedos de celular e quando viram estavam juntos. Enquanto E-Miller gravava no Rio, Clau recebeu nosso repórter da Tripa em seu apartamento na capital paulista.
Tripa: Vocês sempre ficam longe assim?
Clau: Nem sempre. O E tem muitos trabalhos no Rio e eu aqui em sampa, então a gente mantém um apartamento lá e outro aqui, fica mais fácil assim.
T: Mas onde é a residência oficial? Aqui ou lá?
C: Nem aqui e nem lá. A residência oficial fica em Plutão.
T: E onde fica Plutão?
C: Num lugar só nosso (risos).
T: Como exatamente vocês se conheceram?
C: Eu estava numa fase de viver de amor inventado. Sabe o que é amor inventado?
T: Não (risos) Aquele de quem falava Cazuza?
C: Então, amor inventado não tem nada a ver com tapa na pantera como você pode estar imaginando (risos). Eu queria viver um amor inventado, não necessariamente um amor de verdade, consegue entender? Então inventei que estava com alguém e ficava inventando situações ao lado dessa pessoa. Mandando cartas, dedicando músicas, levando comigo nos encontros com os amigos. Só que chegou uma hora que eu sentia falta que essa pessoa tivesse um nome, um sobrenome, gostos, um rosto...
T: (interrompendo) Falta de alguém de carne e osso?
C: Ainda não. Estava muito vago aquele amor inventado. Era apenas uma moldura, eu queria a tela, sabe? Não queria conhecer alguém, só queria que alguém muito interessante me emprestasse o seu nome, o seu sobrenome, sem saber que estava me emprestando.
T: E como fez pra achar esse tal doador?
C: Comecei numa busca boba em perfis do orkut. Entrei em algumas comunidades que considerava bacanas e me lembro até hoje, foi na comunidade do filme O Casamento de Muriel, eu adorava aquele filme e então pensei: se eu adoro esse filme outra pessoa que gostar também só pode ser muito interessante (risos). Foi assim que encontrei o E.
T: Mas se você não procurava se envolver como diz, como que se conheceram? (repórter impaciente).
Clau: (risos) Calma. Acho que ele viu que eu visitava o perfil dele todos os dias. Porque como ele era o meu namorado, pelo menos na minha cabeça, eu entrava no perfil dele todos os dias. Até que ele leu o meu blog e leu um texto que eu havia escrito pra ele e deixou um comentário, deixei no dele, o adicionei no msn e nunca mais deixamos de nos falar.
T: Que coisa maluca! E ele sabia que o tal texto era pra ele?
C: Não. Só depois que eu contei.
T: E ele?
C: Agradeceu.
T: E você?
C: Fiquei preocupado que ele me achasse um maníaco (risos).
T: É uma linda história.
C: Eu tenho muito orgulho de como nos conhecemos.
T: E a coisa foi rolando pela internet?
C: Sim mas com cautela, até porque estávamos muito conscientes da distância, de que aquela coisa virtual é muito louca, as pessoas dizem o que querem com uma facilidade enorme, então fomos com calma, ele muito mais porque ainda estava gostando de alguém.
T: E você disse que não pretendia conhecer ninguém, estava curando alguma desilusão amorosa também?
C: Não, eu nunca fui de estender as minhas desilusões amorosas. Vivo, choro e pronto. Havia passado por uns momentos não muito agradáveis que nada tinha a ver com amor e estava me sentindo muito só, mesmo assim não queria conhecer ninguém. Achava que nunca mais conheceria alguém especial, então se não fosse pra viver algo especial e verdadeiro, que ficasse só.
T: E como foi quando o viu pela primeira vez?
C: Foi mágico. Eu estava descendo a escada rolante do setor de desembarque do Tietê. E ele estava lá, o E estava lá assustado já que era a sua primeira vez em São Paulo. Acho que devia estar pensando que foi uma pegadinha ou algo assim (risos), que eu não fosse aparecer. Ai quando nos vimos nos abraçamos e foi assim, sem aquela vontade de largar mais.
T: E foi amor a primeira vista?
C: Foi, ou melhor, eu me apaixonei nos minutos seguintes dentro do metrô. Quanto ao E eu não sei, nunca perguntei a ele. Mas eu me lembro que fiquei com a sensação de que ele não tinha gostado de mim, que só fui começar a achar de fato que poderia estar sendo correspondido quando ele já estava voltando pro Rio.
T: E quanto tempo ele ficou aqui?
C: Um final de semana.
T: O que ele conheceu de São Paulo? Ou melhor, o que você quis mostrar pra ele? (risos).
C: Fomos no Vegas, uma balada bacana na Augusta. Andamos na Paulista, Ibirapuera, Benedito Calixto, Espaço Unibanco onde vimos O Tempo que Resta de François Ozon.
T: Bastante coisa para dois dias?
C: É. Mas passou muito rápido.
T: Logo depois vocês fizeram Nevermind, o primeiro de muitos curtas juntos.
C: Sim. Ele voltou pro Rio mas nos víamos sempre. O engraçado que ele não conhecia São Paulo e eu apresentei pra ele e eu nunca tinha ido ao Rio de Janeiro, foi o E que me apresentou a cidade maravilhosa. Mas então, escrevemos Nevermind juntos e contracenamos também, foi uma experiência fascinante. Já estávamos apaixonados e toda aquela paixão ficou explicita ali.
T: Será que é por isso que Nevermind é um dos seus trabalhos mais elogiados?
C: (risos) Se for pelo amor que tenho pelo E, todos os meus trabalhos deveriam ser elogiados (risos).
T: O fato dele ser um ator famoso, assediado pelos fãs, não te incomoda?
C: Eu conheci o E antes disso tudo acontecer. Eu estive ao lado dele em cada peça, cada filme, cada conquista dele. Tenho muito orgulho de ter estado ao lado dele e ver ele realizar os sonhos dele. É como se fossem os meus próprios sonhos. Ver o E feliz é estar feliz.
T: E como foram esses dez anos?
C: Foram os melhores anos da minha vida. Eu sempre brinco que viver não é apenas estar vivo. Viver é viver algo que se acredita e eu sempre acreditei no amor. Sempre existiu dentro de mim uma crença muito forte de que alguém apareceria na minha vida. Tudo passou a ter mais sentido. Ter alguém pra voltar, pra contar como foi o dia, pra rir de coisas bobas, pra brigar pelo canal da TV, pra querer sempre mais, sabe? (emocionado)
T: Sei (risos). Achei que sei. Eu percebi que você se emocionou...
C: (interrompendo) Sim. Eu me emociono porque eu sei que são poucas as pessoas que tem a sorte de encontrar o amor de uma vida e eu tinha essa certeza desde os meus primeiros dias com o E. Parecia até exagero no inicio, coisa de adolescente, milhares de mensagens no celular, planos mirabolantes de ir morar no Rio ou de trazer ele pra cá, mas é porque eu sabia que era ele, eu via nos nossos olhos. (novamente emocionado) E sabe, ele me disse sim quando eu achava que minha vida seria seguidos nãos. Ele me salvou, me deu a mão quando eu não queria a mão de mais ninguém e isso emociona mesmo. Por isso que mesmo dez anos depois eu tenho medo que ele vá embora. E não porque acho que não vou encontrar mais alguém que me queira. Eu vou encontrar quem me queira. Mas eu nunca mais vou encontrar ele e eu sei que passaria meus dias procurando ele em outros naquela coisa de olhar e ver o rosto dele pelas calçadas, dentro dos ônibus, na televisão. Eu amo ele.
T: (repórter emocionado também) Só de ouvir você falar, eu consigo ver esse amor. Ele existe, eu vejo. (pausa) Vocês tem alguma música?
C: Temos muitas mas há uma que nos marcou muito, Último Romance dos Los Hermanos.
T: Por que?
C: Não sei dizer, há um trecho que traduz perfeitamente o que um quer para o outro que diz assim: me diz o que é o sossego que eu te mostro alguém a fim de te acompanhar.
T: E suponho que ele tenha dito o que é o sossego?
C: Sim e por isso estamos juntos. Ambos presenteamos o outro todos os dias com isso. Com segurança, com cumplicidade, com amizade, companheirismo, carinho e amor. Eu sei que é brega mas hoje, aos trinta e cinco anos eu tenho muito orgulho de me chamar de brega. Porque se brega é se apaixonar todos os dias pela mesma pessoa, então eu sou o brega mais feliz do mundo.
T: O que espera dos próximos dez anos?
C: Eu espero poder ler essa entrevista e sorrir com o E do meu lado. Poder olhar no fundo dos seus olhos e dizer: valeu a pena. É o que quero, ter ele ao meu lado, sempre.
Tripa: Vocês sempre ficam longe assim?
Clau: Nem sempre. O E tem muitos trabalhos no Rio e eu aqui em sampa, então a gente mantém um apartamento lá e outro aqui, fica mais fácil assim.
T: Mas onde é a residência oficial? Aqui ou lá?
C: Nem aqui e nem lá. A residência oficial fica em Plutão.
T: E onde fica Plutão?
C: Num lugar só nosso (risos).
T: Como exatamente vocês se conheceram?
C: Eu estava numa fase de viver de amor inventado. Sabe o que é amor inventado?
T: Não (risos) Aquele de quem falava Cazuza?
C: Então, amor inventado não tem nada a ver com tapa na pantera como você pode estar imaginando (risos). Eu queria viver um amor inventado, não necessariamente um amor de verdade, consegue entender? Então inventei que estava com alguém e ficava inventando situações ao lado dessa pessoa. Mandando cartas, dedicando músicas, levando comigo nos encontros com os amigos. Só que chegou uma hora que eu sentia falta que essa pessoa tivesse um nome, um sobrenome, gostos, um rosto...
T: (interrompendo) Falta de alguém de carne e osso?
C: Ainda não. Estava muito vago aquele amor inventado. Era apenas uma moldura, eu queria a tela, sabe? Não queria conhecer alguém, só queria que alguém muito interessante me emprestasse o seu nome, o seu sobrenome, sem saber que estava me emprestando.
T: E como fez pra achar esse tal doador?
C: Comecei numa busca boba em perfis do orkut. Entrei em algumas comunidades que considerava bacanas e me lembro até hoje, foi na comunidade do filme O Casamento de Muriel, eu adorava aquele filme e então pensei: se eu adoro esse filme outra pessoa que gostar também só pode ser muito interessante (risos). Foi assim que encontrei o E.
T: Mas se você não procurava se envolver como diz, como que se conheceram? (repórter impaciente).
Clau: (risos) Calma. Acho que ele viu que eu visitava o perfil dele todos os dias. Porque como ele era o meu namorado, pelo menos na minha cabeça, eu entrava no perfil dele todos os dias. Até que ele leu o meu blog e leu um texto que eu havia escrito pra ele e deixou um comentário, deixei no dele, o adicionei no msn e nunca mais deixamos de nos falar.
T: Que coisa maluca! E ele sabia que o tal texto era pra ele?
C: Não. Só depois que eu contei.
T: E ele?
C: Agradeceu.
T: E você?
C: Fiquei preocupado que ele me achasse um maníaco (risos).
T: É uma linda história.
C: Eu tenho muito orgulho de como nos conhecemos.
T: E a coisa foi rolando pela internet?
C: Sim mas com cautela, até porque estávamos muito conscientes da distância, de que aquela coisa virtual é muito louca, as pessoas dizem o que querem com uma facilidade enorme, então fomos com calma, ele muito mais porque ainda estava gostando de alguém.
T: E você disse que não pretendia conhecer ninguém, estava curando alguma desilusão amorosa também?
C: Não, eu nunca fui de estender as minhas desilusões amorosas. Vivo, choro e pronto. Havia passado por uns momentos não muito agradáveis que nada tinha a ver com amor e estava me sentindo muito só, mesmo assim não queria conhecer ninguém. Achava que nunca mais conheceria alguém especial, então se não fosse pra viver algo especial e verdadeiro, que ficasse só.
T: E como foi quando o viu pela primeira vez?
C: Foi mágico. Eu estava descendo a escada rolante do setor de desembarque do Tietê. E ele estava lá, o E estava lá assustado já que era a sua primeira vez em São Paulo. Acho que devia estar pensando que foi uma pegadinha ou algo assim (risos), que eu não fosse aparecer. Ai quando nos vimos nos abraçamos e foi assim, sem aquela vontade de largar mais.
T: E foi amor a primeira vista?
C: Foi, ou melhor, eu me apaixonei nos minutos seguintes dentro do metrô. Quanto ao E eu não sei, nunca perguntei a ele. Mas eu me lembro que fiquei com a sensação de que ele não tinha gostado de mim, que só fui começar a achar de fato que poderia estar sendo correspondido quando ele já estava voltando pro Rio.
T: E quanto tempo ele ficou aqui?
C: Um final de semana.
T: O que ele conheceu de São Paulo? Ou melhor, o que você quis mostrar pra ele? (risos).
C: Fomos no Vegas, uma balada bacana na Augusta. Andamos na Paulista, Ibirapuera, Benedito Calixto, Espaço Unibanco onde vimos O Tempo que Resta de François Ozon.
T: Bastante coisa para dois dias?
C: É. Mas passou muito rápido.
T: Logo depois vocês fizeram Nevermind, o primeiro de muitos curtas juntos.
C: Sim. Ele voltou pro Rio mas nos víamos sempre. O engraçado que ele não conhecia São Paulo e eu apresentei pra ele e eu nunca tinha ido ao Rio de Janeiro, foi o E que me apresentou a cidade maravilhosa. Mas então, escrevemos Nevermind juntos e contracenamos também, foi uma experiência fascinante. Já estávamos apaixonados e toda aquela paixão ficou explicita ali.
T: Será que é por isso que Nevermind é um dos seus trabalhos mais elogiados?
C: (risos) Se for pelo amor que tenho pelo E, todos os meus trabalhos deveriam ser elogiados (risos).
T: O fato dele ser um ator famoso, assediado pelos fãs, não te incomoda?
C: Eu conheci o E antes disso tudo acontecer. Eu estive ao lado dele em cada peça, cada filme, cada conquista dele. Tenho muito orgulho de ter estado ao lado dele e ver ele realizar os sonhos dele. É como se fossem os meus próprios sonhos. Ver o E feliz é estar feliz.
T: E como foram esses dez anos?
C: Foram os melhores anos da minha vida. Eu sempre brinco que viver não é apenas estar vivo. Viver é viver algo que se acredita e eu sempre acreditei no amor. Sempre existiu dentro de mim uma crença muito forte de que alguém apareceria na minha vida. Tudo passou a ter mais sentido. Ter alguém pra voltar, pra contar como foi o dia, pra rir de coisas bobas, pra brigar pelo canal da TV, pra querer sempre mais, sabe? (emocionado)
T: Sei (risos). Achei que sei. Eu percebi que você se emocionou...
C: (interrompendo) Sim. Eu me emociono porque eu sei que são poucas as pessoas que tem a sorte de encontrar o amor de uma vida e eu tinha essa certeza desde os meus primeiros dias com o E. Parecia até exagero no inicio, coisa de adolescente, milhares de mensagens no celular, planos mirabolantes de ir morar no Rio ou de trazer ele pra cá, mas é porque eu sabia que era ele, eu via nos nossos olhos. (novamente emocionado) E sabe, ele me disse sim quando eu achava que minha vida seria seguidos nãos. Ele me salvou, me deu a mão quando eu não queria a mão de mais ninguém e isso emociona mesmo. Por isso que mesmo dez anos depois eu tenho medo que ele vá embora. E não porque acho que não vou encontrar mais alguém que me queira. Eu vou encontrar quem me queira. Mas eu nunca mais vou encontrar ele e eu sei que passaria meus dias procurando ele em outros naquela coisa de olhar e ver o rosto dele pelas calçadas, dentro dos ônibus, na televisão. Eu amo ele.
T: (repórter emocionado também) Só de ouvir você falar, eu consigo ver esse amor. Ele existe, eu vejo. (pausa) Vocês tem alguma música?
C: Temos muitas mas há uma que nos marcou muito, Último Romance dos Los Hermanos.
T: Por que?
C: Não sei dizer, há um trecho que traduz perfeitamente o que um quer para o outro que diz assim: me diz o que é o sossego que eu te mostro alguém a fim de te acompanhar.
T: E suponho que ele tenha dito o que é o sossego?
C: Sim e por isso estamos juntos. Ambos presenteamos o outro todos os dias com isso. Com segurança, com cumplicidade, com amizade, companheirismo, carinho e amor. Eu sei que é brega mas hoje, aos trinta e cinco anos eu tenho muito orgulho de me chamar de brega. Porque se brega é se apaixonar todos os dias pela mesma pessoa, então eu sou o brega mais feliz do mundo.
T: O que espera dos próximos dez anos?
C: Eu espero poder ler essa entrevista e sorrir com o E do meu lado. Poder olhar no fundo dos seus olhos e dizer: valeu a pena. É o que quero, ter ele ao meu lado, sempre.
Um comentário:
ADOREI... SIM, ESTAREMOS JUNTOS. E-MILLER.
Postar um comentário