14.7.06

A fé e a abroba

Cortei cortando abroba” – disse lamentando o curativo. A frase foi mágica, tamanha ingenuidade. E não pelo erro de pronuncia ou pouca criatividade na construção, mas pela sinceridade. Poderia ter inventado histórias para o seu curativo e provocar em mim piedade e empatia. Mas não, foi sincera. E não se importou, e não se envergonhou de falar “abroba”.
Pediu ainda que lesse os seus exames e fiz pacientemente o que tempos atrás acreditaria ser um absurdo. Aliás, mudei muito. E hoje, ainda impaciente, sei compreender ou pelo menos aceitar as pessoas e suas diferenças.
Desde as mais simples até as mais complexas. Até porque tenho convivido absurdamente com pessoas complexas. Complexas demais. Chegam a ser chatas e pedantes tamanha é a complexidade com que encaram o mundo. São sempre as que se acham as espertas, e saem radicalizando as calçadas e oprimindo os felizes.
Sempre maltratei a fé. Uma pessoa com fé não passava de uma pobre alma que tinha que acreditar em algo que não pode ver e não pode tocar como muleta. E sempre me achei mais preparado para viver do que elas. Jamais dividiria com elas a ignorância de tal crença.
Mas hoje, porque duvidar da fé das pessoas? Eu acredito que um dia vou conhecer alguém que goste de mim como sou e que vou retribuir tal pessoa com o mesmo sentimento, isso não é fé? Acredito mas não tenho a certeza desse querer e isso é fé. Não gostaria que alguém tentasse me provar que vou passar a vida sem ninguém, que acreditar nisso é perda total do meu tempo.
Portanto, cada um com a sua fé seja ela qual for. O espírito contestador que dominou a minha adolescência e boa parte da minha vida nos últimos anos, está delicadamente me deixando. Isso não quer dizer que estou apenas aceitando o mundo como ele é, tornando um alienado despreocupado com as coisas preocupantes. Acho que estou longe de me tornar um “acomodador” de vidas. Estou apenas tentando me conhecer melhor e permitir que as pessoas se conheçam melhor por elas mesmas.Então viva a doce mulher e sua “abroba”.

2 comentários:

Anônimo disse...

Viva! Lindo!

Anônimo disse...

nossa nossa.. qta pressa para comentar... Nem consegui completar meu nome...rs
Sou eu... o "d"... (Du).