7.7.06

A primeira cena

Acordou com uma idéia. Não era bem uma idéia, era mais uma cena, triste cena com o personagem que ronda seus sonhos. Repetia a cena dentro de si, como se algo que apertasse, com a frenética busca pela continuidade do que havia inventado sem muita consciência. Terminava no corredor do hospital, a personagem triste amparada por dois amigos. E sem uma seqüência, volta para a lenta abertura do envelope, a revelação e o corredor com os dois amigos.
Isso o angustiou pela manhã, pela tarde e entrou na noite. Tirando-lhe o sono, a paciência da espera pela solução da cena seguinte. Tentou inventar, mas com genial impulso inconsciente havia inventado a primeira, acreditou que da mesma forma deduziria as seguintes.
Acordou ao segundo dia com a mesma cena. A mesma personagem triste, o mesmo envelope, a revelação e os amigos no frio corredor do hospital. Nada mais que isso, sem detalhes, sem sentido. A angustia aumentou. Já era coisa do além, simbologia de sonhos, não se bastaria a um simples roteiro que certamente ele esqueceria em uma gaveta qualquer. Era um desafio, descobrir as próximas cenas.
E acordou por dias, meses e anos com a mesma cena. Até que esqueceu e a cena se perdeu nos primeiros minutos de uma manhã qualquer. Quando se perde a cena, perde-se a história toda. Quando se perde a bela cena que nos envolve, que nos instiga, que nos ameaça, se esquece o futuro e os caminhos que nos levam até lá.
Até que um dia ele abriu um envelope, tomou-se pela revelação e teve ao lado poucos amigos. Presságio? Apenas o inicio das cenas seguintes.

Um comentário:

Anônimo disse...

AI, AI, AI; VIU? HEHEHE E O DESENROLAR DESSA CENA!? HEHEHE