6.7.06

Longe do muro

Quando pulei o muro, na esperança de não muito longe, sentir mãos amigas me buscarem, eu arrisquei algo muito valioso para mim. Quando pulei o muro dos meus sonhos imaginei que logo estaria de volta e que tudo seria como antes. Como o novo que surgiu e que ressurgiu em mim forças devastadas nos tempos daqueles fins. Mas quando pulei eu realmente pulei os muros, e ninguém me buscará. E para lá, tão pouco penso em retornar.Não condenarei suas palavras vividas. Acredite nos que te cercam quando é dia e quando é noite. Anjos me visitavam nas noites de febres inundadas e eles sempre estavam certos, então penso que não há do que se envergonhar. Nossos mundos são apenas muito diferentes, quase opostos. E esse atrito polido desgasta pouco a pouco cada um de nós. Não mais escreverei para ti as cartas que nunca enviei. Não mais direi dos pensamentos que me correm e que as vezes corroem. Já não é tão importante para mim. Vou recolher as armas e também os brinquedos, não sei mostrar apenas um. Não sei conviver com a dor de esconder e de ficar mostrando apenas o belo. Não mostrarei nada. Uma criatura meio apática, neutra, algo sem graça posso me tornar. Ainda assim, serei aquele anjo caído dos mágicos dias que corria como criança reencontrada nos muros únicos de nossas vitórias. Não mais julgarei, não opinarei, não acreditarei em vossas palavras e assim peço que não me envolva, não diga o que não quero ouvir e nem o que desejo ouvir. Qualquer palavra será desperdiçada, pois não o ouço de onde estou. Eu quero viver com você com o que temos hoje. Não mais quero aqueles dias, não quero aquela troca. Hoje compreendo que errei quando fui demasiadamente apaixonado por tudo o que construímos. E se hoje é um tanto destruído, ou mudado, não quero reconstruir. Posso viver nas cinzas e cacos do que sobrou. Ainda vejo muitas coisas belas que fizemos e nelas vou sorrir e dizer que sou feliz. Já que distribuí minhas desculpas, eis que não mais irei escrever essas palavras. Nada mais será endereçado para o seu muro. Não há mais o que temer. Escreva lindas palavras. Já não há sentimentos para poder recriminá-lo e assim, nem para amá-lo. Mas seremos felizes como nos permitimos. Noite qualquer eu corro nos muros que construiu com seus sonhos e teremos longas conversas sobre o nada.

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