15.4.06

Do tempo em que se varria com velhas vassouras

Voltar para dentro de si mesmo. Deixar os três pontos, adotar o único final. Um violoncelo tocando na sacada do meu triste coração apodrecido e recusado em erros bobos, confusos e infantis e indelicados e sujeitos a desaprovação dos meus.
E é sempre a mesma luz que se apaga e que lá na frente ascende mais amarela que antes, me guiando na solidão dos pensamentos. Mais uma vez desejos e amores guardados e aguardados dentro de azulados guardanapos. Lembranças pisoteadas, cacos em pó varridos por velhas vassouras vermelhas vorazes por destruição.
Verdes, brancas, bicolores, de tamanhos pequenos, gostos amargos, descem correndo margeando as ruas que gosto, sensações estranhas de dor e libertação na chuva dos sonhos esquecidos lá naquela caixa de sapato que fica meio jogada meio largada completamente sozinha na parte alta do nosso guarda tudo de sempre. E remexendo as histórias, as águas daquele dia, a parede, o sorriso, a música. E queria mesmo poder guardar isso dentro de caixas de sapato e jogar como oferenda pra um córrego qualquer que passar pelo meu lado e te levar assim, tão rápido como surgiu.
Queria mesmo que fosse, fácil como varrer restos, juntar os meus e jogar num canto, colocar delicadamente debaixo de um tapete e trancar a porta sem a vontade de voltar.
E se lamento esse momento, é por que ainda cresce dentro de mim aquelas febres inusitadas próprias dos amantes. Já não sei do seu toque. Já sei mais do poder das palavras de amor e das sensações que elas te proporcionavam.
Nunca fui muito fã de deixar pessoas pelo caminho. A perda enobrece muitos, mas empobrece a todos. De certa forma sou mais pobre hoje do que ontem. E amanhã, terei metade do que tenho hoje. E assim verei, dia a dia, a metade se indo em cápsulas, em suspiros, em mordidas estranhas e quedas em lugares escuros e úmidos.
Pra se achar a gente precisa antes se perder. E se já não posso estar ao seu lado, por que não me queres mais, então já não posso estar só comigo. E se perder vai ser a minha sina, e se lembrar de você vai ser o meu castigo, e seu meu desejo vai ser sufocado, e se meu amor vai morrer, hei de não querer um pouco também. Hei de me perder, de me lembrar e de te esquecer e de desejar o inverso, todo o resto, e sufocar até morrer mais um pouco.
Não é a sua primeira vez em algo que estou dando meus primeiros passos. E se o tropeço vem seguido da queda que não vem seguido da sua mão, então tenho que me levantar e me curar só ao lado de qualquer outro que não seja você.
E quando tão forte me bater a saudade, a dor de te querer, vou te matar com minhas armas de Jorge e te jogar pra fora do meu coração dolorido, mandar você pro lugar onde você está.
Mas não esqueça, estarei sempre nos beijos que deres em outros. Irá lembrar-se de mim e lamentará, nem que for de piada mal contada, de necessidade piedosa, mas há de lamentar a sua falta de coragem e excesso de orgulho ferido. E quando me veres novamente, profunda dor sentirá. Ora frio estarei acariciado por aqueles que choram e que dormem de olhos bem abertos. E eu, em meu estado imóvel, fingirei com maestria a falta que não mais me farás. E sorrisos verdadeiros darei àqueles que realmente querem ao meu lado.E quando eu acordar desse sono doentio, verei que tudo não passou de um mal profundo. E que a luz amarela e as borboletas azuis sempre estiveram a me esperar.

Um comentário:

Anônimo disse...

oi tudo bem aqui éo fernando...naum sei se vc lembra de mim..entaum precisava falar com vc...se naum for te pedir muito me liga!!!ia te manda un scrap mais nem...tentei te ligar mais vc naum estava...!!!