26.4.06

Eu.

Já sorri pra quem me disse não. Corri pro lado contrário. Voltei. Mudei de direção e corri de novo. Me perdi, me encontrei, me perdi, me encontrei, cansei, procurei, achei, perdi, achei, não encontrei, desisti, cansei, me acharam e tento não mais me perder. Tudo pelo avesso e tudo no lugar. Tudo sentido então tudo perfeito. Queria um coturno, um sobretudo, uma música triste borrada pra mim e um sonho bom. Queria viver de planos, projetos, rascunhos de projetos e projetos de rascunhos de projetos. Viver de mentiras, ainda que verdadeiras demais. Fugir das verdadeiras, principalmente das falsas demais. Pular amarelinha aos sábados. Perder guarda-chuva na segunda e pegar na sua mãe na quinta. Tomar suco de qualquer coisa, um prato daquilo e de sobremesa “aquele-mesmo”. Vomitar as indecisões na fossa da direita e me afundar até a cabeça na da esquerda. Não pensar nas perdas, nas sutis diferenças ou na falta de crenças. Rejeitar essa mania de rimar, como saias que não se pode usar, como os que de longe vêem o mar, lembranças que não se pode guardar ou corações desacostumados a amar. Tudo tão bobo. Como aquele verão de noventa e alguma coisa, ou como naquela festa que você não veio. Não importa. Você já não é você. Ou melhor você agora é uma massa meio azul meio laranja onde grudo todos vocês. É mais fácil pra carregar. Então você, e você, e você e mais você são apenas você. Fácil. Sem nome, sobrenome, cor de olho pra lembrar ou tirinhas de histórias para catalogar. Vou colecionando como figurinhas, um passatempo bobo, carregado de passos em sapatos apertados. Ô encrenquinha que é rimar! Ô doçura desconcentrada, longe do rumo perfeito, adoro palavras impensadas e avenidas vazias. Adoro a fruteira cheia e a risada da minha mãe. Pra quê mais? Não conheço o Rio, nunca fui expulso em jogo de futebol de botão e não me fizeram festas surpresa. Não importa. Tenho todo o resto. O inverso. E se não me pedir para decidir entre o A e o B, nos daremos bem. E se não pedir pra eu cantar, poderemos até nos entender. E se puderem suportar minhas insanidades, serei um bom amigo. Minha vida é assim, uma forma mal desenhada, como rabiscos de Pipinho. Não tem como evitar. O melhor as vezes é o pior. Inverta isso e é bem capaz que encontre alguma resposta. Um beijo no Paco. Outro na Lara. Uma fungada no Horácio. E sorria, mesmo que o idiota diga não. Sorrir é cool.

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